SPLENDID ISOLATION
I want to live alone
And never go down in the street
Splendid Isolation
Lock the gates… take my hand
And lead me through the World of Self
Adaptação de “Splendid Isolation”, de Warren Zevon, 1989.
SPLENDID ISOLATION
Ao caos das ruas apinhadas sucedeu o confinamento domiciliário, uma prisão sem sentença formal, mas ainda assim, de vida ou de morte. Vida ou morte físicas. A outra, a interior, há muito percorria, finada, as ruas agora vazias. No confinamento surge a oportunidade para a luz se manifestar, do questionamento se declarar em toda a sua imponência e modestamente se tentarem as respostas mais honestas que devemos dar a nós próprios. Se não formos nós, quem então?
O confinamento não é um fatal momento de angústia e ausência. É, ao contrário, uma oportunidade para colocar em perspetiva as nossas vidas e a nossa relação com a natureza e o mundo que nos rodeia. A oportunidade para entrar no mundo do eu. Um momento de reflexão, uma janela, entre o que somos e o que a existência nos pede que sejamos. O confinamento concede espaço à opinião de nós, o que permite julgar-nos sem remorso, mas com o compromisso de voltarmos renovados, despojados, conscientes de que tudo é efémero e que só o afeto, a terra mãe e tudo o que nos edifica como humanos inocula sentido às nossas vidas.
Para Sísifo, a vida é uma sequência sem fim de atividades que não resultam em nada duradouro. Mas se olharmos de dentro, da perspetiva de quem a vive, a vida pode ter sentido e esse sentido só acaba quando cumprimos os nossos objetivos e não houver mais nada que tenha que ser feito. Lamentavelmente, a humanidade tem tudo por fazer!
Do confinamento pode sobrevir a consciência da extrema necessidade de atribuir um real sentido à vida. De preencher o seu evidente vazio. Podemos torná-lo num isolamento esplendido.
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