Descrição
Zemrude Regular Edition
É o humor de quem a olha que dá à cidade de Zemrude a sua forma. Se passarmos por ela a assobiar, de nariz no ar atrás de assobio, conhecê-la-emos de baixo para cima: sacadas, tendas a ondular, repuxos. Se caminharmos através dela de queixo contra o peito, com as unhas espetadas nas palmas das mãos, os nossos olhares prender-se-ão ao chão, aos regos de água, aos esgotos, às tripas de peixe, ao papel velho.
(CALVINO, 1972:68)
Sobre o ato de caminhar, Certeau trouxe uma importante reflexão, na medida em que o corrobora como um ato enunciativo, que tem relação com maneiras de estar no mundo. Sendo uma agitação que se dá mediante diversos ritmos, a caminhada deduz singularidade, e, com isso, produz formas, molda os espaços. Todo ângulo possibilita uma forma de olhar, e é interessante, pois, pensar a fotografia como uma metáfora para a cidade, já que formar itinerários é o mesmo que tecê-la, formar mapas subjetivos sobre os espaços com os quais nos relacionamos. Isto se dá porque cada itinerário é um ângulo, e cada ângulo propõe uma cidade diferente, construída subjetivamente – uma diferente fotografia.
Beatriz Rodrigues Ferreira e Ana Luiza Carvalho da Rocha, In discursos fotográficos, Londrina, v.6, n.8, p.213-230, jan./jun. 2010