Descrição
Today Is a Long Time
Today Is a Long Time
“Queridos Avós (escrevo-vos de onde mora o amor)
“O acto de ver e de Olhar não se limita a olhar o visível mas o invisível.
De certa forma é o que chamamos de imaginação.”
Tenho a firme convicção que uma casa onde morou o afecto jamais estará vazia. É este eco sentimental, esta presença distante, que escuto ainda nas imagens com que Arlindo Pinto compõe esta carta de amor póstuma, dirigida aos seus avós, neste “Today is a long time”.
Evito sucumbir à tentação de invocar cada imagem, cada um destes espaços aparentemente abandonados, como testemunhas de um certo Portugal rural, como memórias dos tempos felizes de infância que o autor aí viveu. Fácil, demasiado fácil, seria ampliar o relato do Maravilhoso com que um infante feliz recorda o seu passado, pleno de aventuras e tranquilidade, num tempo em que desconhecíamos ainda o seu verdadeiro valor.
Seria limitante ancorar este discurso num glorioso e saudoso tempo ido, esquecendo que hoje, deste posto de vigia que é o presente, o mais importante é a aguda compreensão de quão estruturante pode ser o amor, de como ele nos edifica e torna humanos.
Associar esta revisitação imagética a uma história de afectos, a um universo do aparentemente invisível ou pelo menos não evidente, é exactamente uma das paradoxais virtudes da fotografia, ou pelo menos parte do seu enigma, – essa hipotética tradução do invisível em imagens retinianas, visíveis perante o olhar de todos que as desejem interpretar. Não será assim de espantar que onde figuram poeiras do tempo leia também eu, em potência, a história que uniu avós e neto em torno do devir.
É um poético relato de imortalidade e humanidade, este generoso livro pronto agora a ser fruído. Um secreto murmúrio partilhado, sobre as múltiplas formas como a morte nos toca e esculpe. “Mas, repara:”, relembra Gonçalo M. Tavares, “o passado não pode ser tocado. Experimenta tocar em algo que sucedeu ontem ou há seis séculos. O passado é intocável, é imortal.
Como já acabou, não acaba. Que estranho, dirás.”