Todos Mortos

Todos Mortos

Originally posted 2015-02-04 00:15:02.

Todos MortosRuo, construo, desconstruo, reconstruo, num ajuste curvo
de uma abóboda celeste incoerente
de um fogo efémero que arde mas não queima
como a insignificante morte dos antepassados,
depois da dor, morte e terrestres seres moídos
em impulsos incoerentes de glória falsa
efemeramente enganosa.
Proxenetas do pai no seu dia, sem genetriz nem descendente que o acoite.
Triste macaqueação e um inútil ser filho da mãe.
Aspiro a armas e canhões nunca assinalados em qualquer parte
num retângulo de homens difíceis, génios do horror nativo,
extenuados da inteligência sobredotados da depredação,
verdugos do povo madraço macambuzio prenhe de revoltas
encerradas nas paredes obscuras dos tugúrios da imigração.
Todos mortos, todos mortos… filhos da puta!

Fria caligrafia

Originally posted 2015-02-04 00:14:34.

Fria CaligrafiaFora… lá fora o vento sibilante,
o chuvisco gelado do Inverno…
O Inverno humano.
Rosto no vidro batido… rosto dilacerado.
Agora o “já” eterno…
Lá fora o Inverno.
Vago… o pensamento!
Fome do outro lado…
A força, raiva… raiva… lá fora o Inverno!
O zumbido repentinamente estatelado… o zumbido.
A voz… por terra o pedaço vivo… de humanidade morta!
A destruição quente… Quente o Inverno?
Lá fora o frio… o Inverno frio.
Fome virgem deste lado?
Abundância… fome parida!
Agora sim! A fome parida…
Gritos… gritos… tantos gritos.
O desespero solitário lido no rosto…
Rosto no vidro batido… partido!
E o Inverno cá dentro…
A pele nua… no frio.
Pesado o pedaço morto… aquele rosto no vidro antes batido.
Lágrimas pelo rosto despedaçado…
Agora é o Inverno, o pedaço gelado… tudo gelado.
A terra quente… por terra o morto… frio.
Agora o “já” eterno… a ausência do rosto no Inverno…
O Inverno no rosto!
O sentir… um sentimento ido… um pedaço…
Lá fora o vento sibilante… o Inverno… o chuvisco gelado…
… a morte!

(Meda, 1982)

Um brinde a Ochs

Originally posted 2015-02-04 00:13:56.

phil.jpgJorravam-lhe da ponta: contos, sátiras, objectos de adoração terrestre.
Odes a uma civilização na vertiginosa recta do declínio.
Era o que se avistava por entre o relógio do tempo, entre a manhã e a tarde.
Lutava ausente de membros, espada ou escudo,
Sem defesa da hostilidade dos dias intermináveis.
Os dias do fim de forca na ideia.
“Se um homem pode mudar deve ser poupado”.
“Pode ter algo a dizer”.
Os cães de fila, danados, electrificavam
Corpos pela cor, religião e credo politico.
Espumavam ideologia que inundava as rusgas,
Listas negras e corredores de morte.
Sepulturas.
O preço da glória, das esperanças e dos sonhos
De uma noite certa, desenhada há cem anos atrás,
Lutando novamente pelo sul.
A postos.
Todos. Estarei lá também.
Brotava lágrimas de calibre 45,
Como se as entranhas igualassem uma fonte romana
Perdida numa nesga de terreno, à beira alta.
Num altar de sacrifício finito orava confuso,
Erguendo a taça receptada do furto ao Santo Graal.
Chorava os mortos da intolerância.
Cantava ao suicídio,
Brindava àqueles que tinham partido sem razão aparente.
Obrigado!