From Wind to Motor!

Originally posted 2015-02-04 00:15:55.

Há uns anos, alguns, bastantes porventura, havia no Martim Moniz uma feira ou o que quer que seja que lhe queiram chamar, que mais tarde foi transferida para um local muito mais apropriado (?), a Praça de Espanha. Tudo com vista a embelezar aquele emblemático local da cidade. No entanto, não embelezaram nada, digo eu, que sou do contra.
Bom, mas o que interessa é que havia uma feira e que essa feira, de entre as mil e uma bugiganga que vendia, vendia também discos! Vinil, naturalmente. LPs e Singles. O que ali se encontrava, só era comparável ao que se descobria naquela loja que havia ali para a Rua do Forno do Tijolo: A Grande Feira do Disco, onde adquiri muito do chamado “Rock Português”, do melhor ao mais bizarro, ou uma outra discoteca cujo nome não recordo na Rua do Ouro, se a memória não me atraiçoa.
A feira era visita obrigatória, quase diária, ainda que para isso as aulas ficassem para mais tarde, em busca de discos raros, perdidos na memória dos consumidores, mas apreciados pelos mais conhecedores e ainda por cima ao preço da uva mijona…
Num desses dias, enquanto empoeirava os dedos percorrendo uma caixa de singles, deparei-me com um disquinho de capa monocromática, em que uns tipos com aspecto muito hippie, posavam para a fotografia de uma forma descontraída e pouco ortodoxa, como seria de esperar de personagens daquela jaez. Continue reading “From Wind to Motor!”

Para lá da estrada

Originally posted 2015-02-04 00:15:53.

man-dog
Fancis Bacon - MAN DOG

O cão sentara-se havia pouco.
O deserto crescia, crescia sem parar
junto ao calcanhar da palmeira daquele oásis
plantado à beira da estrada descalça,
que conduzia a “Megalópolis”, a cidade desgraçada
de luzes frias e chuva tão intensa
que os pés se perdiam na lama da estrada circular,
que aquele rafeiro axadrezado percorria do nascer ao ocaso.
Sete ventos varreram a cidade maldita,
que era uma aldeia triste e sombria do interior
com musas e papalvos, saloios de venta roída pelo frio,
bem sepultados em sarcófagos de tédio irrespirável,
de tal modo as meias do assalto ao banco me sufocavam a voz,
que corria derretida da caminhada
em torno daquele velho deserto do cão,
que era amigo do homem, até que este,
fodido da vida,
lhe pontapeou os tomates inchados da glória de não montar.
E o deserto era já tão intenso que o dilúvio nada poderia
contra as areias cálidas de uma tarde de verão
junto ao asfalto do cão.
Três cães.
Eram três cães e votaram: logo a vida se afogou
no dilúvio sumarento da prostituição e da chulice,
onde se tropeçava como se os pés de uma cabra fossem razão suficiente
de um orgasmo ordinário.
Três carros!
Três resplandecentes “Mercury”.
Um peão morto e o deserto.
Ah, esse crescia. E crescia sem parar.
Crescia até ficar tão longe,
que os olhos de uma águia se perfuraram nos cornos de um boi corpulento
que era o cão morto, desfeito, apodrecido
em sangue corrente tipo EPAL
e os miolos verdes eco-lógicos,
amarelados pelos sete ventos gelados do norte
espalharam três tumores por cabeça de fome de preto.
Todos gostaram do sexo do animal putrefacto,
decomposto em quadradinhos de chocolate envenenado
pelos políticos do tesão.
E assim os porcos que saltitavam alegremente
num antro de esterco impossível,
nada puderam contra a areia pequenina da estrada de
“Megalópolis” do cão e da morte coberta
pelo deserto que parou no início do
fim do mundo.