vagina painting

Trabalho, médicos e "Donna Cona"

Originally posted 2018-04-04 20:32:36.

vagina paintingO dever determinou que ficasse em casa todo o dia. Honrosa excepção feita à ida ao otorrinolaringologista. Desde há uns dias que um zumbido me não larga o ouvido direito. Passei a transportar, diariamente, na minha cabeça, uma estação televisiva, depois da hora de fecho. Bom, não sei se actualmente as televisões fecham. A minha desliga, as outras não sei. Não é fácil transportar uma televisão dentro da cabeça. No meio da desgraça e bem à portuguesa, acabei por ter sorte. É. Não conseguiria sobreviver a uma televisão em horário nobre. Seria incapaz de suportar tanta asneira congregada. Suportaria com dificuldade a associação de malfeitores da língua, que legenda tudo o que é estrangeiro, com um português de quem não passou do 1º ciclo. Grave, grave é que não há quem ponha termo à actividade destes “serial killers” da língua de Camões. Aliás, Camões e eu temos muito em comum: ele cego e eu com propensão para surdo. Deficiências físicas que só nos enobrecem o carácter e cultivam a comiseração dos outros comuns mortais. Sei agora, horas depois da visita àquele profissional da saúde, que, afinal, transportava duas televisões. Uma de cada lado. Livrei-me da direita, quedei-me com a esquerda. Sempre é melhor.
“Visita nova a esse médico terás que fazer”, ouvi o mestre Yoda sussurrar. “Que a força esteja contigo”, respondi. Não pude utilizar o restante da frase que houvera pensado para ocasião semelhante, “…e a tu mulher comigo”, porque creio não ter o mestre Yoda, nunca teve, qualquer parelha sexual feminina. Acresce que, sendo o mestre Yoda tão feio como na realidade é, a sua hipotética parceira só poderia, digo eu, alinhar pela mesma bitola. Sendo assim, passo.
Voltando à vaca fria: o dever determinou que procedesse à correcção de provas de determinado concurso. Se a querença para actividade tão sedentária e aborrecida era nula, melhorou, contudo, ao ver os resultados dos empenhados oponentes. Tornou-se uma actividade hilariante. Diversão gratuita. Quereria partilhar com os cerca de, digamos, três leitores desta crónica, a minha experiência e o meu misto de felicidade e desolação. Não obstante, a deontologia não me permite aqui citar verdadeiras pérolas da arte do Direito e da Língua, tudo aposto numa única folha de papel não reciclado.
Salvou-se o dia, pelo facto de poder estar, calmamente, trabalhando e ouvindo, repetidamente (mudar o disco determina uma certa actividade), alguns dos registos fonográficos que se acumulam no meu buraco. Primeiro uma fase de calma, passando por uma outra de pequeno nervosismo, até à euforia do trabalho terminado. Disso fala-se noutra secção.
Mas, salvou-se por outra ordem de razões. Ao tentar encontrar na rede um certo diploma legislativo, um digitar apressado num teclado soterrado por um sem numero de provas e livros, e um Google muito estúpido, faz aparecer no meu ecrã uma extensa relação de cerca de 1.860.000 entradas para a destacada palavra “cona”, afinal a palavra de busca! Fiquei na posse de conhecimentos até aqui inimagináveis. Que, por exemplo, a Wikipédia, numa página que diz ser de “desambiguação”, define a palavra em causa como sendo a forma popular (palavrão considerado indecoroso) de referenciação ao órgão sexual feminino. Por aqui, nada de novo. Mas que Cona é um município italiano da província de Veneza, eu não sabia. E também não sabia, embora pudesse, nos melhores dias suspeitar, que CONA é uma organização não lucrativa de enfermeiras canadianas, da área da ortopedia, a Canadian Orthopaedic Nurses Association. Mais: há uma empresa aborígene canadina que se move na área da tecnologia que dá pelo nome de Donna Cona. O Cona Group é uma empresa inglesa que fabrica equipamentos para a industria de restauração, designadamente, máquinas de café de grande estilo. Não esqueçamos, contudo, o Comité Oceanográfico Nacional” do Chile, cona, também, portanto. Por último, merece também destaque a Carriage Operators of North America, organização não lucrativa da área dos coches.
Abazurdido, fiquei por aqui. Mas, em 1.860.000 entradas, deve haver verdadeiras pérolas.
Por último, fiquei sabedor de uma moça que pinta com a dita. Literalmente. E também com as mamas. A pintura acima é da própria: “Vagina Paintings“.
Boa-noite!