Noites de Valéria

Originally posted 2015-02-04 00:17:26.

Tombámos mortos de alcoól e Valéria ria em gargalhadas de cio imprudente, entre o trago fácil de um uísque ordinário e o afagar caloroso do sexo humedecido. Jorge sorria matreiro.
O ar da sala tragava incolores os odores da festa, que, de paredes nuas, só um astuto e, no entanto, miserável cabide presenciava. A mesa do talho estava lá para estar no memento da aventura, sem que mais explicações fossem necessárias.
Valéria era louca e entorpecia-nos os sentidos com conversas estrebuchantes de palavras ordinariamente viscosas. Gozávamos o hálito ilustrado de amantes que Valéria exalava da boca piorrenta, adivinhando os que lhe sugaram os mamilos até à exaustão.
Valéria e Jorge entumecidos.
Em acto de alucinante desvario toma-a de assalto sobre a mesa de talho, cujo mármore ornamentava a cozinha excêntrica de Valéria. Contorciam-se. Ninguém ousou mexer-se e todos aplaudimos o acto de brava coragem. Assistíamos e queríamos gozar o sentido próprio da festa masturbando-nos num amontoado de carne erecta, que transpirava ofegante a penugem basta da alcatifa que nos absorvia o ser.
Caiu a máscara e as paredes escureceram quando o mundo penetrou Valéria, a casa e o que restava dos convivas que jaziam mortos num orgasmo inacabado.
Jorge cuspiu sangue e confrontou a existência com a morte.
Valéria ria em gargalhadas de cio imprudente.
Jorge sorria… morto!