Diário de um melómano

Originally posted 2010-01-04 02:50:24.

Querido Diário Ocasional:

Há já muito tempo (sei que é o que tu pensas) que não te dedicava um bocadinho. Tu sabes, falar contigo ou melhor, deixar-te aqui três ou quatro coisas dos meus curtos dias. Não me interpretes mal. Digo curtos, porque o dever me permitiu ausência mais prolongada, férias como sói dizer-se, e me levanto invariavelmente às 3 da tarde como se padecesse da doença do sono ou tripanossomíase africana, causada pelo parasita unicelular Trypanosoma brucei. Não! Se assim fosse já estaria noutra morada: “In The Presence Of The Lord”, como diriam os BLIND FAITH (sabes, aquela banda antiga do Eric Clapton). Não é nada disso. Sou apenas noctívago: é a noite que me esconde, mas é também a noite que me revela. É uma contradição, pode ser. Mas o próprio Sartre dizia que “viver é estar em contradição”. Assim sendo, sinto-me maravilhosa e filosoficamente contraditório, sem que tal me pese ou me apoquente: é isso a minha liberdade.
Bom, sei que estás curioso sobre toda esta história do natal e do fim d’ano: prendas, decisões, planos para 2010, etc., etc.
Antes de mais espero que te sintas bem na tua nova pele. O sítio foi remodelado com a contribuição analítica do João Vasco, tendo em linha de conta que, antes de mais, ele é a exposição permanente do meu trabalho fotográfico e que, de entre este, aquele que efectivamente é para mim importante, me interessa e me faz vibrar deve destacar-se. É por isso que a primeira página só mostra agora um slideshow daquilo que posso chamar “A MINHA FOTOGRAFIA”. Claro, a GALERIA, continua repleta de fotos: também faço outras coisas, até baptizados… Não leves a mal, mas aquelas é que me dão pica (desculpa o calão e já agora que me desculpe o TÓ PICA, dos ANTI-CLOCKWISE). Por falar nisso, as fotografias dos concertos, do Rock, filho do ELVIS ou não, estarão sempre por cá. Dois amores: rock e fotografia! Pensavas que era só o MARCO PAULO? Nada disso! Todos temos, em algum momento dois amores ou mais!
Olha, também coloquei de lado o “player “ porque, segundo a MARIA, “distraía”. Se quiseres ouvir música vais ao meu FACEBOOK ou ao meu MYSPACE. Desenrasca-te por lá. Entretanto, podes sempre comprar discos, meu pirata!
Nem de propósito! Falando de discos: sabes bem que o espaço é já diminuto para arquivar discos, mesmo os pirata. A casa não aguenta mais. São aos milhares e tenho pensado no assunto.
De há uns tempos para cá, pensando na música e no futuro dos discos enquanto suporte físico da mesma, sejam eles compactos ou de vinil, concluí que chegas a uma altura, se tiveres mesmo a doença dos discos como eu, que não tens espaço, não tens tempo para lhes dedicar, para admirar as suas capas, para verificar se estão a ficar com sinais de humidade (mofo), para os limpares com todos aqueles produtos à base de álcool isopropílico e, sobretudo, para os ouvires. Passas anos sem ouvir “aquele”! Compras em duplicado, porque te esqueces que já tens aquele outro na tua discoteca pessoal! Enfim! E isso ou são casos de insanidade ou de memória cheia, que carece de upgrade.
Além do mais, se adquires duas vezes, consomes mais capital e este não abunda, excepto nos casos em que há faces ocultas, e que não são a da lua, apitos dourados e outras reinações que certas criaturas confeccionam com o dinheiro cá do pagode. Portanto, disse cá para comigo que isto tinha que ter uma solução, neste mundo globalizado em que até os telefones moveis têm cada vez mais pixéis nas suas câmaras fotográficas (a minha está na reparação, já sabes) e uma data de funções. Por enquanto, não possuem máquinas de lavar roupa e louça, nem frigorífico, mas com o tempo lá irão e até tu que não bebes água vais sentir uma sede terrível. Como se estivesses no deserto…
Bom, atalhando caminho, o que te quero dizer é que tomei uma decisão radical: salvo raras e que terão de ser honrosas excepções, não comprarei mais música em suporte físico. Vou tornar-se um fanático do iTunes ou coisa parecida. Não tenho espaço, nem memória para mais. Que dizes tu disto?
A pensar nisto, o Pai Natal colaborou e trouxe-me um HDD Externo de 1 Terabyte, o que equivale a 1024 GB, para armazenar, mais coisa menos coisa, 300.000 canções!
Como é que isto se liga? O meu terabyte ao resto da HI-FI para podermos estar uma semana sem mudar de disco? Sim, ao amplificador, à TV! Bom, isso requereu um pouco mais de estudo, porque me confesso leigo na matéria. De inicio liguei o terabyte à entrada USB do meu DVD-R Philips… Hum… esperei, esperei e nada surgiu no ecrã. Percebi, depois de falar com um técnico, meu irmão, que o melhor seria formatar o dito com um sistema de ficheiros FAT32 e não usar o NTFS de origem.
Foi o que fiz. A iomega tem um software que formata o disco num ápice.
Voltei à sala, mas percebi que era muita fruta para o Philips, que insistia em mastigar e não deglutir. Bom, que fazer?
Disso falo-te amanhã, hoje já é tarde e assim…
Até amanhã, querido Diário Ocasional.

Juntos são dinamite!

Originally posted 2018-07-13 15:13:33.

Boa noite, prezado diário (hoje não te trato por “querido” – podem pensar coisas):

Pegando na ponta da conversa que ontem ficou a meio, devo dizer-te que já tive e tenho alguns aparelhos Philips: TV, Leitor de CD, DVD-R (dois), leitor de DVD e porventura um ou outro electrodoméstico de cozinha. Uma das máquinas, o segundo gravador de DVD que apareceu no mercado com a marca Philips, revelou-se sempre um fiasco, que obrigou até à intervenção da DECO e tudo. Esta, à conta da intervenção, perguntou-me se eu não quereria ser sócio de tão ilustre associação. Respondi que não, muito obrigado. Achas que fiz bem?
Salvo, uma delas, todas as outras máquinas Philips morreram sempre pela boca, quase que fazendo jus ao ditado “pela boca morre o peixe”, aplicado aos tagarelas que não conseguem conter-se e se desbocam sobre tudo e todos. São as gavetas. Imagina. As gavetas, diário, ficam de boca aberta. Têm problemas em fechar e até abrir. Acho que é porque são muito utilizadas…
Bom, o Philips ao qual liguei o Tera (diminutivo por que com afecto trato o meu HDD Iomega de 1 Terabyte) não deu conta de si.
Quem havia de o fazer, lendo quase tudo o que é formato e até o Tera, foi o meu i-Joy (é, a marca é mesmo essa), que comprei há uns tempos por 25 €. Faz som para a casa toda e tal, pelo que não investi muito no dito, mas saiu-me uma boa peça. Um destes dias vou abri-lo e ver o que tem dentro. Curiosidade. Pode ser como o meu leitor/gravador VHS de 1989, que é Blaupunkt de nome, mas por dentro é todinho Panasonic. Nunca avariou! Tem milhares de horas de trabalho. Um engenho de se lhe tirar o chapéu, com a bonita idade de 20 anos!
Adiante. O i-Joy leu e deu boas indicações, mas eu exigia um pouco mais. Foi assim que surgiu o “ASUS O!Play – TV HD Media Player”. Extraordinário, Mike (sem ofensa)! Lê um porradão (desculpa o calão) de formatos, vídeo, som e imagem, incluíndo o Mkv. O mais difícil é desligar e ligar tudo novamente naqueles espaços minúsculos onde temos os aparelhos. Irra que até transpiro e praguejo.
Tens som no amplificador e na TV, com acréscimo da imagem. Pesquisa na Net e vais aprender uma série de coisas sobre esta e outras máquinas semelhantes.
Como vês o meu natal foi muito tecnológico e aqueles dois juntos são dinamite!
Agora resta-me a tarefa de “ripar” compactos e vinil para dentro do Terá. Mas cuidado, é necessário ter uma “cópia de segurança” do Tera, para o caso deste se tresloucar e não ir tudo desta para melhor. Ou seja, outro Terá é essencial ou, pelo menos, aconselhável…
Hoje não te maço mais. Amanhã falo-te do fim-de-ano!
Bons sonhos.

The Mango Kid

Originally posted 2015-02-04 00:17:20.

Voicist - Whatever You Want From Life VOICIST + TOKYO DRAGONS + DANKO JONES @ PARADISE GARAGE

Terça-feira é feira da ladra. Semanas antes tinha já decidido ir com o “JM” ladrar para o Paradise Garage. Por ali passava “The Mango Kid”, acompanhado de duas bandas de apoio: Voicst e Tokyo Dragons. O projecto era chegar cedo, ficar bem junto ao palco, primeira fila entenda-se, e abanar violentamente a cabeça ao som do já conhecido Danko Jones. Com os outros, ilustres desconhecidos, logo se veria. A noite havia de consistir no frenético destilar de suor e sacudir as ancas oscilando o corpo entregue à potência dos amplificadores. Chegados ao local onde a celebração do rock’n’roll deveria ter lugar, ocupámos os lugares de acordo com plano antecipadamente traçado: temerariamente na dianteira. No proscénio estavam alinhados instrumentos e as baterias faziam fila indiana, prontas a ser descartadas à medida que fossem usadas. Eram uma espécie de instrumento de usar de deitar fora. Tocado que estivesse, ele aí ia direito ao canto esquerdo do palco, por onde haveriam de se escoar os instrumentos e amplificadores usados e já sem préstimo para aquela noite. Música descartável. Who cares?
Há hora marcada aparecerem os Voicst. Os presentes, escassos, fitavam o palco com a curiosidade de quem nunca lhes tinha posto a vista em cima, nem sequer lhes tinha feito ouvidos de mercador.
“We are Voicist from Amsterdam”. Ok. Fogo à peça. Um trio poderoso. Rock’n’Roll em inglês com sotaque holandês. Normal. Além disso apenas nota para um qualquer problema de pé-de-atleta do baterista e do baixista: um de meias e outro descalço. Depois queixem-se que a micose se contrai nos locais menos expectáveis.
Por ali andaram pulando e rodopiando sempre com um som suficientemente forte para manter quentes os indefectíveis amantes do ruído organizado produzido em volumes consistentes com a possibilidade de uma surdez prematura. É dos Voicst o registo que hoje aqui fica em “chords of fame”, precisamente o tema que abre este disco.
E lá fizeram a parte deles, os miúdos, e bem digo eu. Idos, vem o staff retirar instrumentos e a bateria da fila indiana. O canto esquerdo do proscénio lá vai sugando, qual buraco negro, os instrumentos e demais artefactos usados na função.
Os meus ouvidos, a escassos 100 cm do palco, começavam a emanar um certo zumbido característico da exposição a demasiados decibéis… iiiiiiiiiiiiiiiiiii. E nada. Assim é que é! Em cima do acontecimento.
Palco limpo, chegam em grande estilo os Tokyo Dragons. Malta à moda antiga. Cabelos compridos, indumentária com prazo de validade expirado, botas de cóboi (sem vacas, pelo menos no palco), t-shirt invocando ZZ Top e cabelos suficientemente longo para se saber que a Páscoa se aproximava.
Tónica no hard-rock, solo p’ra aqui, solo p’ra ali e os ouvidos iiiiiiiiiiiiiiii. Malta competente e que aqueceu bem os presentes, que haviam já iniciado os violentos abanões de cabeça, mas nada de “mosh”, por enquanto. A droga e o álcool estavam, contudo, a caminho da produção dos seus efeitos.
Depois do buraco negro ter sugado toda a instrumentália do TD, as luzes apagaram-se a aparecem os três “Men in Black”. Hum… notei logo. Cara nova!
O baterista era um outro fulano, com um claro problema de dentição, por falta deles.
Função iniciada. O que se esperava: um destilar contínuo de energia, contacto permanente com a audiência, conversa de café, provocações mútuas, mas o homem aguenta tudo, e mais, entra no jogo… Naturalmente que os abanões de carola tornaram-se mais viris e, por vezes, violentos.
Tudo corria bem até os elementos extra musicais produzirem os seus esperados efeitos. Os nativos inquietaram-se e iniciaram uma dança frenética de encontrões. Corpos faziam voos curtos, que terminavam inevitavelmente no chão lavado de cerveja. Por entre voos e encontros fui atingido pela mão delicada de uma donzela escanzelada que erguia com a outra um copo de cerveja super-bock. Apesar do meu desagrado a coisa ficou por ali. Afinal estava numa zona de risco. “No big deal”, apesar de ter sido forçado a fazer aterrar um dos moços que por ali voava baixinho.
O “JM”, menos habituado às tribos do rock, foi violentamente atingido na cabeça pelo voo 42 de um piloto destravado. Temeu pela vida. Recuou para local seguro junto ao bar. Como qualquer soldado consciente do seu dever, permaneci bravamente na linha da frente defendendo os valores em que acredito: “rock till you drop!” Se não gostarem destes tenho outros, é só dizerem…