Originally posted 2015-02-04 00:11:55.
O início
Em 1969, um grupo de quatro amigos – Michael Lang, Artie Kornfeld, John Roberts e Joel Rosenman – decidiu organizar o Woodstock Music & Art Fair. O local inicialmente pensado para o evento seria a pequena vila com o mesmo nome, no estado de Nova Iorque. No entanto, por dificuldade em arranjar licenças e com a discórdia dos residentes, os quatro jovens tiveram de ir pregar para outra freguesia, literalmente. E foi assim que o agricultor Max Yasgur surgiu no seu caminho. Ele gostava de «miúdos com grandes ideias» referem Abigail Yasgur, prima de Max, e o marido Joseph Lipner no livro para crianças – Max Said Yes! The Woodstock Story. Abigail tinha apenas 14 anos na altura, mas o livro expressa a herança que recebeu de uma geração: «paz e amor e a ideia de aceitar e de ter compaixão para com o próximo».
A quinta
Max abriu o seu coração e as portas da sua quinta de 600 hectares àquele que ficaria conhecido como o maior festival de rock de sempre. A pequena localidade de Bethel, igualmente no estado de Nova Iorque, não estava preparada para a afluência de Woodstock ou Festival de Woodstock, como seria mais tarde chamado. O evento estava previsto para cerca de 200 mil pessoas, mas surgiram 500 mil. O tempo não ajudou à festa e choveu quase sempre durante os três dias de festival, respectivamente de 15 a 18 de Agosto de 1969.
A adesão atingiu tamanha escala que o trânsito estrangulou. Assim, milhares de pessoas abandonaram os seus automóveis e andaram quilómetros a pé só para chegar ao recinto.
As opiniões
Entre essas pessoas estiveram Nick e Bobbi Ercoline. O casal de namorados foi apenas a um dos dias do festival, mas foi-lhes impossível chegar perto do palco e foi a essa distância que ficaram abraçados. E mal poderiam adivinhar que seriam imortalizados pela fotografia do repórter da Newsweek Burk Uzzle. A mesma viria a ser a capa do álbum da banda sonora do documentário Woodstock: 3 Days of Peace & Music (1970), vencedor de um Oscar da Academia de Hollywood e que contou na sua equipa com Martin Scorcese (na montagem).
Um dia, em casa de amigos, Nick e Bobbi Ercoline estavam a ouvir o LP e Nick pegou na capa e disse: «Olha a nossa colcha», para de seguida afirmar «Olha estes dois somos nós». E dois anos depois do festival, deram o nó.
Hoje, passados 40 anos ainda estão casados e relembram Woodstock como um momento único.
Em várias entrevistas dadas a jornais internacionais como o Daily Mai l e o Times of India, Bobbi Ercoline refere: «Quanto mais tempo passa sobre a data do evento original mais significativo se torna e mais nos apercebemos do quão fantástico foi – tanta gente reunida sem violência, apenas amor, paz e partilha». Sam Yasgur, hoje com 67 anos e filho do humilde agricultor que cedeu a quinta para oevento, partilha da mesma opinião que Ercoline. Ao USA Today confidenciou: «Em última análise, o que Woodstock representou foi a expressão de um conjunto de direitos básicos que nós, por vezes, tomamos como garantidos – o direito à reunião, o direito de criticar, o direito de nos vestirmos à vontade, mesmo que seja de forma ridícula, o direito de ouvirmos a música que queremos ». E reforça a ideia dizendo «Quando perdemos esses direitos perdemos aquilo que faz de nós quem somos».
Mas, nem todos partilham da mesma opinião sobre o festival. Para muitos, as instalações do local não foram equipadas para providenciar saneamento ou primeiros-socorros a tamanha multidão. Na verdade, centenas de pessoas foram obrigadas a lutar contra problemas de racionamento de comida e de condições mínimas de higiene. Mas, apesar do caos e do estado de «calamidade pública» que se instalou na pequena Bethel, o resultado poderia ter sido muito pior. No entanto, foram registadas duas mortes, uma por alegada overdose de heroína e outra por atropelamento por um tractor.
Texto: Ana Cristina Valente, retirado de DIFmag, Setembro 09 em
Fotografia: Burk Uzzle
PS: a 17/09/2009 estreia o filme!