Cavaleiro sem medo e sem mácula!

Originally posted 2018-09-19 01:08:59.

Cavaleiro sem medo e sem mácula!Fernando José Salgueiro Maia, oficial de Cavalaria, passou à História como o “Cavaleiro sem medo e sem mácula” do 25 de Abril. Fez uma primeira comissão como alferes em Moçambique, numa Companhia de Comandos que veio a comandar por ferimentos do Comandante e Adjunto. Regressado a Portugal, embarcou para a Guiné em 1970, comandando uma Companhia de Cavalaria. Novamente regressado, foi colocado na EPC. Foi a partir daí que no dia 25 de Abril desta Unidade comandou uma coluna, incluindo blindados ligeiros, que ocupou o Terreiro do Paço, tendo-se aí dado o frente-a-frente com o carros de combate M-47, que teriam facilmente destruido os seus blindados; a determinação e sangue frio de Salgueiro Maia fez com que as guarnições dos carros de combate recusassem a ordem de fogo, ultrapassando-se assim um ponto crucial da Revolução. Mais tarde, dirigiu-se com a sua coluna para o Largo do Carmo, cercando o Comando Geral da GNR onde Marcello Caetano se tinha refugiado. Coube-lhe dirigir o ultimatum ao governo, tendo parlamentado com Marcello Caetano, que lhe pediu um oficial general para aceitar a rendição, tendo para isso sido chamado o general Spínola. Regressado à EPC, aparece em público apenas no 11 de Março, em que vai a Tancos esclarecer a situação e onde tem uma troca de palavras algo irreverente com o general Spínola, chefe do golpe falhado; e no verão quente de 1975, em que é um dos subscritores do Documento dos Nove. Avesso à ribaltada política, nem por isso deixou de ser alvo de ajustes de conta de uma certa hierarquia, que nunca o nomeou para lugares de destaque, do ponto de vista profissional. A sua postura determinada, combinada com o apagamento por opção, apesar de muitas solicitações a que estava sujeito, tornaram-no uma fígura de referência. Morreu, vítima de um cancro, como tenente-coronel.

Retirado da página da Associação 25 de Abril na Internet

em 17/9/2001

Para lá da estrada

Originally posted 2015-02-04 00:15:53.

man-dog
Fancis Bacon - MAN DOG

O cão sentara-se havia pouco.
O deserto crescia, crescia sem parar
junto ao calcanhar da palmeira daquele oásis
plantado à beira da estrada descalça,
que conduzia a “Megalópolis”, a cidade desgraçada
de luzes frias e chuva tão intensa
que os pés se perdiam na lama da estrada circular,
que aquele rafeiro axadrezado percorria do nascer ao ocaso.
Sete ventos varreram a cidade maldita,
que era uma aldeia triste e sombria do interior
com musas e papalvos, saloios de venta roída pelo frio,
bem sepultados em sarcófagos de tédio irrespirável,
de tal modo as meias do assalto ao banco me sufocavam a voz,
que corria derretida da caminhada
em torno daquele velho deserto do cão,
que era amigo do homem, até que este,
fodido da vida,
lhe pontapeou os tomates inchados da glória de não montar.
E o deserto era já tão intenso que o dilúvio nada poderia
contra as areias cálidas de uma tarde de verão
junto ao asfalto do cão.
Três cães.
Eram três cães e votaram: logo a vida se afogou
no dilúvio sumarento da prostituição e da chulice,
onde se tropeçava como se os pés de uma cabra fossem razão suficiente
de um orgasmo ordinário.
Três carros!
Três resplandecentes “Mercury”.
Um peão morto e o deserto.
Ah, esse crescia. E crescia sem parar.
Crescia até ficar tão longe,
que os olhos de uma águia se perfuraram nos cornos de um boi corpulento
que era o cão morto, desfeito, apodrecido
em sangue corrente tipo EPAL
e os miolos verdes eco-lógicos,
amarelados pelos sete ventos gelados do norte
espalharam três tumores por cabeça de fome de preto.
Todos gostaram do sexo do animal putrefacto,
decomposto em quadradinhos de chocolate envenenado
pelos políticos do tesão.
E assim os porcos que saltitavam alegremente
num antro de esterco impossível,
nada puderam contra a areia pequenina da estrada de
“Megalópolis” do cão e da morte coberta
pelo deserto que parou no início do
fim do mundo.