Oremos ao deus da hipócrisia.

Originally posted 2015-02-04 00:17:03.

Árvore de NatalÉ! Estamos a atravessar uma quadra festiva, uma época de paz e amor. Tanto amor que quase caímos no pecado (mortal) de amar a mulher (ou o marido, eu fico pela mulher) do próximo. Trata-se de celebrar o nascimento do Filho do Criador.
Mas, mais importante, trata-se de transportar para a era moderna os gestos de Baltazar, Melchior e Gaspar. Nem que para isso tenhamos que suportar longas filas de transito automóvel ou pedonal. Encontros e encontrões nas catedrais do consumo, tomar aquele banho de multidão, que nos traz os mais variados odores, os gestos mais simpáticos, as melhores prosas dos vendedores de lojas de toda a natureza e feitio. Continue reading “Oremos ao deus da hipócrisia.”

Eu nem devia…

Originally posted 2015-02-04 00:13:18.

arvore_natal.jpgEu nem devia! Porque considero o Natal, tal como o concebe e alardeia o meio excessivamente consumista onde vivo, uma autêntica e desbragada hipocrisia. Por que é só (com todos os significados desta pequena e solitária palavra) nesta época, que todos se lembram, e pouco mais, dos mais necessitados. Porque é nesta altura do ano, que os humanos quase se consciencializam de que são seres sociais e que há até seus pares a quem chamam sem abrigo, de que recordam tropeçar de quando em vez, numa das muitas noitadas bem bebidas, à saída das discotecas e para os quais cozinham agora uma fingida ceia, com direito a bacalhau com todos e tudo resto, que a mesa da classe média (em vias de extinção) é suposto exibir.
Porque é agora que, do alto da sua pelintrice espiritual, muitos percorrem os corredores das catedrais do consumo, em tudo vendo motivo justificado para calcinar o parco 14º mês, se é que por tanto foram abençoados, ou agigantar as suas já gulivescas prestações mensais. Mas pronto, eu entendo, todos temos que ser iguais, para que a galinha da vizinha não seja melhor do que a minha. Só que a igualdade é como um porco, não ronca sempre para o mesmo lado. Ronca, em regra, para onde melhor lhe cheira.
Nesta vertigem da época natalícia, somos todos irmãos, ainda que alguns de pai incógnito. Eu nem tenho qualquer interesse em chamar irmão a certos indivíduos que envergonham a raça humana, mas que, porque é Natal, coitados, “também têm direito”, de modo que passam também à classe de gente.
O Natal é sobretudo uma época, dissimulada, deprimente, potencial causadora de graves desavenças familiares e consumidora de amizades. Por que é dissimulada já sabemos. É deprimente porque constrange os que não têm família Continue reading “Eu nem devia…”