Gargulas no céu das estepes!

Originally posted 2010-05-05 02:15:28.

GargulaA chegada da estação quente trouxera consigo acalmia às hostes em confronto e prazer redobrado aos guerreiros, que repousavam a carne macerada e os ossos doridos junto das suas amantes. Apenas ao entardecer o frio das estepes se fazia sentir de forma moderada. Uma ténue brisa de fim de tarde, acariciava indelével os cabelos dos que assomavam às janelas mergulhando na frescura das estepes ou regressavam a casa antes que o sol se desvanecesse por detrás da mais alta montanha.
Havia já quarenta dias que Segomo e Tutates não se defrontavam em campo aberto. Apenas pequenas escaramuças pontilhavam o território, sempre que patrulhas avançadas, inadvertidamente, ou em sinal de desafio, ultrapassavam as linhas imaginárias de divisão do território de cada um daqueles povos guerreiros. Em regra, estas contendas visavam, antes de mais, testar a guarda de cada um deles e trocar avisos de alerta, à mistura com juras de mortífera vingança, sobre soldados, famílias e tudo o mais que mexesse do outro lado da fronteira.
O Conselho de Sábios Segomo aproveitava as tréguas para rever estratégias, desdobrando-se em pedidos de colaboração e auxilio junto dos povos vizinhos, para que os seus primogénitos engrossassem as fileiras Segomo, na luta contra os Tutates. Nem sempre eram bem sucedidos. Alguns dos povos circundantes preferiam manter a sua isenção, a comprarem uma guerra cujo desfecho lhes poderia ser bem desvantajoso.
Enquanto os Segomo procuravam alianças, os Tutates recrutavam ferozes mercenários oriundos da antiga Tibéria. Homens corpulentos, cujos corpos ostentavam a marca de muitas batalhas, anunciadas por cicatrizes onde outrora lâminas enfurecidas lavraram a carne ainda virgem, disseminando a dor e a morte. Deles se dizia terem a força de um toiro e a astúcia de um lobo. Vencê-los na luta corpo a corpo era tarefa sobre-humana e os Segomo sabiam-no bem. Kalaika, filho de Metores, recorda com frequência, em rodas de amigos, como a patrulha de seis Segomo em que seguia, se bateu, com denodo, mas sem glória, com um guerreiro Tibério, que, em busca de caça, certo dia penetrou temerariamente, assim pensaram, em território inimigo.
A patrulha Segomo detectara-o já muito próximo da linha de fronteira, enquanto fugia carregando o produto da sua caça. Os seis Segomo pensaram estar perante uma presa fácil, pelo menos a aritmética assim o asseverava. Decididos no assalto ao gigante Tibério, os Segomo foram sendo ceifados um por um, com os golpes vigorosos do alfange que aquele trazia à cintura. Apenas Kalaika foi suficientemente lesto, para perceber que resistir ao gigante lhe traria a glória efémera de uma morte prematura, pelo que pôs os pés ao caminho e rumou ao povoado para contar o sucedido, deixando para trás o Tibério coberto do sangue dos seus camaradas de patrulha.
Neófrates aproximou-se da janela, tacteando à sua volta. Sentiu o fresco da brisa afagar-lhe a comprida barbela. Estivera inquieto durante toda a tarde e talvez a frescura de fim de tarde lhe trouxesse algum alívio e o libertasse dos seus mais sombrios pensamentos. A confirmarem-se os rumores de que os Tutates tinham conseguido juntar às suas fileiras sete mil Tíbérios, o próximo confronto seria devastador para os Segomo, trazendo consigo a aniquilação quase certa.
Neófrates há muito matutava na mais tenebrosa das suas ideias, mas a, seu ver, a única que poderia trazer equilíbrio à balança da guerra das estepes. Expô-la ao Conselho de Sábios, era para si um tremendo desafio, pois não ignorava que os seus pares se iriam opor-lhe com veemência e, agora que tinha sido admitido no conselho, não pretendia criar quaisquer fricções que provocassem a ira, ainda que totalmente desproporcionada e demasiado dramática, daqueles.
“Mas não há outra forma! Seremos chacinados pelos tibérios!” – Magicava Neófrates.
Depois de muito lucubrar de olhos postos na montanha, tomou a resolução final de comunicar ao Conselho de Sábios, que, em sua opinião, Gárgulas deveriam cobrir o céu das estepes e apressou o passo em direcção ao centro da cidade.

CAPITULO I

CAPITULO II

Noite Mágica de Metal

Originally posted 2018-12-01 15:15:11.

MIDNIGHT PRIEST + SHIVAN + GARGULA NO TRANSMISION

Cais do Sodré!
Transmission Club. Arquitectura pombalina. Palco reduzido, encravado entre duas colunas de granito, encimadas por uma espécie de tijolo burro.
Local de culto que aguarda sua eminência, o padre da meia-noite, que antes da hora que lhe dá nome, irá orar com os indefectíveis fiéis do Metal.
Histórias de magia negra, rainhas do mal, sepulturas de vidro, epistolas de profundo sentimento, orações de crentes abnegados do Heavy Metal.
Coimbra não é conhecida como terra de padres, mas este dali veio para colocar em polvorosa as hostes lisboetas. Foi a minha primeira missa dos MIDNIGHT PRIEST. Por volta talvez 22.30, um padre, pequeno na estatura, mas grande na sua devoção, entrou em palco acompanhado dos seus acólitos, para cantarem bem alto RAINHA DA MAGIA NEGRA, aliás muito solicitada pelos fiéis.
O PRIEST pregava e os fiéis abanavam a cabeça em sinal de aquiescência, com vigor, com ânimo, como deve estar-se no culto do metal.
Para registar o momento de tão eloquentes epistolas lá estava o fotógrafo, este humilde servidor das hostes metaleiras.
Os MIDNIGHT PRIEST foram aclamados nesta vinda à capital e tiveram direito a repetir a RAINHA DA MAGIA NEGRA.
Roda o palco, aliás fixo. O que roda são portanto, os instrumentos e no entretanto, molha-se a garganta que tanta reza até dá sede.
Instrumentos a postos e os SHIVAN continuam a missa. Hinos entoados por todos, que estes rapazes já rodam por aqui há uns tempos e deram o melhor de si até à vitória final. Se os MIDNIGHT PRIEST foram uma surpresa para mim, os SHIVAN confirmaram aquilo que deles se esperava: Heavy Metal até ao tutano. Já os tinha visto no MARCH OF METAL e não deixaram os seus créditos por mãos alheias.
Depois de mais uma rodada fizeram a sua primeira aparição em público os GARGULA. Com reminiscências dos idos ALKATEYA, estava curioso de ver em palco a banda de João Pinto. É certo que tinha estado em dois dos seus ensaios para umas fotos promocionais, mas nada que se compare ao ritmo e ao ambiente do palco. O verdadeiro teste é ao vivo. Fiquei agradavelmente surpreendido com a prestação dos GARGULA, que conseguiram terminar em beleza uma noite de metal português. Na set list, temas dos GARGULA, como V12, Eager ou The Bets Are On, que abriu as hostilidades e alguns temas mais antigos dos ALKATEYA, como Star Riders e Face to Face.
A festa terminou com a missa dita bem alto com muitos músicos em palco para a despedida final e um até já, que o metal não espera.