IV Exposição de Artes Plásticas do Espólio Municipal 2005-2009

De 10 de Setembro a 18 de Outubro decorre na Galeria Municipal da Câmara Municipal da Amadora, uma exposição dedicada ao respectivo espólio, adquirido durante os anos de 2005 a 2009. trata-se de uma boa oportunidade de ver obras de autores conhecidos e outros menos conhecidos, todos eles para (re)descobrir, entre os quais tenho a honra de estar.

Here I Come Constantinopla!

Originally posted 2009-01-11 19:18:20.

CAPA DO CATÁLOGO

Inauguro aqui, oficialmente o ano de 2009. Faço-o em termos pessoais e fotográficos. Pessoais, porque é a primeira vez que aqui deixo alguma da minha prosa este ano. Fotograficamente, não porque tenha realizado algo de novo (ainda não iniciei a época), mas porque teve ontem lugar na Galeria Municipal de Monte Agraço, a inauguração da exposição da série fotográfica “Fios de Vida”, num espaço bastante agradável, recuperado pela edilidade, que dum lagar fez um excelente local de arte e cultura. Presentes estiveram o Sr. Presidente da Câmara e alguns Vereadores da Câmara de Sobral e ainda o Sr. Vereador do Pelouro da Cultura, da Câmara Municipal da Amadora, presenças que muito me apraz registar.
Entre os “comuns mortais” que lá estiveram contei gente de Sobral e daqui de mais perto, da zona da grande Lisboa, alguns para mim verdadeira surpresa, mas normalmente é assim: os que dizem que vão, não aparecem, os que nada dizem lá estão há hora certa. A uns e a outros o meu profundo agradecimento, pelo apoio e pelo carinho que dedicam à arte e, particularmente, à fotografia.
A festa decorreu sem problemas, regada com um abafado para fazer frente a uns 0 graus, que à hora em que nos dirigimos para o Vila Manjar (restaurante que se recomenda) deveriam estar a agraciar as gentes daquelas paragens. Resumindo: após cerca de 300 metros a pé tinha a cabeça gelada, por dentro! Agora imagem por fora! Chiça que a brisa era mesmo polar! Valeu o polvo grelhado com migas de… bem migas e um tinto da região acrescido de uma ginjinha, que soube que nem … ginjas.
Para terminar um dia de tanta importância nada melhor que ir até ao Speakeasy ouvir 3 horas de “covers” pelos afamados “FERRO E FOGO” a lançarem chamas há trinta anos. Ainda aqui havemos de voltar a falar deles.
Nove horas de sono foram insuficientes para que o meu grande amigo Jack Daniels me saísse da cabeça, de modo que me enrolei numas mantas que correm a casa atrás de todos e enfrentei a pior das bestas da era moderna: a televisão. Sorte a minha! No ar: VATEL. Longa-metragem dirigida por Roland Joffé, com Gérard Depardieu (François Vatel), Uma Thurman (Anne de Montausier) e Tim Roth (Marquês de Lauzun), nos principais papéis. Não sei se foi aqui que foram buscar a marca de sal refinado Vatel. Uma coisa é certa, o Sr. Vatel era o Mestre-de-cerimónias do Príncipe de Condé e um excelente cozinheiro, que guardou para si a última refeição, após o que se suicidou, para não ir para Versalhes ter chatices com o Rei, que o queria a cirandar por lá.
Voltando à fotografia: 2009 será um ano diferente, assim o espero. Além de haver pelo menos, uma outra exposição minha, já agendada, iremos por aqui ter algumas modificações no aspecto visual e nas funcionalidades do site. Já dizia o outro, “todo o mundo é composto de mudança”.
Para já porque o Catálogo não está ainda disponível para download, deixo aqui dois dos textos que por lá constam, de duas pessoas que têm a paciência suficiente para ser meus amigos, que me deram a honra de escrever sobre as minhas fotografias e a quem aqui deixo o meu público agradecimento.
Um é do ANTÓNIO MANUEL VENDA, entre outras coisas excelente escritor da língua lusa e o outro da CLÁUDIA MATOS SILVA, que além de escritora é ainda animadora de rádio e uma amante e abnegada divulgadora do Pop/Rock nacional.

VER MESMO ANTES DA IMAGEM

Quem conhece o trabalho de Arlindo Pinto sabe que pode ter sempre à espera algumas surpresas. Porque esse trabalho é feito de uma permanente renovação, como se o olhar do autor, permanecendo o mesmo, conseguisse mostrar que pode ver as coisas de uma forma diferente, nova, sempre nova. Uma forma renovada. Percebe-se que o autor não tem medo de arriscar. E a verdade é que ganha com isso, e ganham as imagens; e quem as vê, que não pode ficar indiferente.
Mas Arlindo Pinto não é apenas um observador, é também um criador. Mais do que também, é sobretudo um criador, ou antes, um inventor. Talvez isso explique o seu olhar à procura das coisas novas. Um olhar, quem sabe, um bocadinho obediente; porque a procura daquelas coisas novas lhe é ditada pelo espírito inventivo do autor. Em tantas coisas, nos mais variados lugares, em momentos que depois se percebe que são irrepetíveis. O tempo a passar na savana, com um animal pensativo por perto. Um jogo de futebol, dos de miúdos. O corpo de uma mulher, pelo fim da tarde. Uma peça de teatro, como se recuássemos várias dezenas de anos em Lisboa. Os homens mais velhos no jardim, sentados de costas para nós que depois havemos de vê-los.
catalogo_insideAcredito que o autor possa ter no seu trabalho a experiência do narrador de um romance para mim inesquecível, o belíssimo «Soldados de Salamina», escrito pelo espanhol Javier Cercas. As coisas, qualquer coisa, qualquer uma que ele quer fixar, que quer dizer ao olhar para fixar, e ainda não sabe como. O olhar atrapalhado, à espera, ou também ele à procura. E o autor também. Até ao momento em que percebe como terá de fazer. E vê, antes da imagem, como ela vai ficar. No livro é mais ou menos assim. A certa altura pode ler-se: «Vi o meu livro inteiro e verdadeiro, o meu relato real e completo, e soube que só me faltava escrevê-lo, passá-lo a limpo, porque estava na minha cabeça do princípio ao fim…» Para a imagem, nessa altura, falta apenas um clic.

António Manuel Venda
Escritor
http://floresta-do-sul.blogspot.com/

ARLINDO PINTO PRESO NAS MALHAS… NOS “FIOS DE VIDA”

A máquina fotográfica entra no quotidiano, sem que por um só instante, a sua presença se torne invasiva. Desta maneira se apresenta Arlindo Pinto fotógrafo desde 1999 – formado pela Escola Oficina da Imagem – subtil na abordagem mas apaixonante no resultado final. Cada “flash” revela a essência humana, afinal, são as pessoas que fazem da nossa passagem pela vida, uma experiência única e irrepetível. Assim são as “chapas” do Arlindo, momentos tricotados ao som de uma cidade que mexe e onde as vidas se entrecruzam, entre sentimentos tão reais.

“Fios de Vida” é uma exposição surpreendente para quem há muito segue o trabalho do fotógrafo – por vezes rendido ao fulgor do rock’n’roll, da sensualidade ou até, e porque não dizê-lo, da sexualidade, sem nunca ser vulgar – mas aqui pela simplicidade somos estimulados a observar com muita atenção cada uma das 24 fotografias. Estabelecemos inevitavelmente alguma intimidade com os protagonistas – transeuntes que caminham, por uma qualquer cidade, em retratos por vezes “agri” outros “doce” da vida.

Cláudia Matos Silva
Escritora e animadora de rádio


Last but not least, o ANTÓNIO MELÃO escreveu umas palavras que, por motivos de paginação, não foram incluídas no catálogo, mas as quais não quero deixar de citar, por virem de onde vêm e por considerar o António um excelente ser humano e ainda melhor fotógrafo:

O Arlindo Pinto é um fotógrafo da pesada como eu e da velha guarda… Se nas fotografias de espectaculos ele já se esmera nestas “avant-garde” então deslumbra!
O efeito está bem conseguido e mostra paixão pela arte.
É uma maneira de pintar com a luz sem borrar a pintura!
Fotos, beer, chicks & rock’n’roll forever!

António Melão aka Cameraman Metalico
http://www.flickr.com/photos/metalcamera/

Depois de lerem, na diagonal, que não têm tempo para mais, ficam a pensar: porque é que este tipo deu ao artigo o nome de “Here I Come Constantinopla!”?
Pois é! A vida está cheia de interrogações!!!
Have a drink on me!

Quando começaram os fios a ser de vida?

Originally posted 2007-06-23 17:00:17.

Joel Peter WitkinDepois de concluída a minha formação académica na área da estética fotográfica e influenciado por fotógrafos como Joel-Peter Witkin (imagem ao lado) e Peter Dazeley, no que ao grafismo e arrojo das suas imagens concerne, dispus-me a arriscar um trabalho diferente daqueles que era usual ver. Isso não significava que alguém não tivesse já feito, e bem, queria apenas saber se era capaz de o fazer, sem receio do desastre que podiam ser os resultados finais. Meti-me no estúdio e fiz tudo o que era possível, considerando os resultados pretendidos, para quebrar as regras que durante o Curso Profissional de Fotografia, havia aprendido, sem nunca esquecer as palavras dos que me ensinaram e que sintetizarei neste aforismo: “Para quebrar regras é necessário conhecê-las!” Conhecia-as, ainda não as esquecera e pouco as havia porventura posto em prática e pensei: “Vou fazer (quase) tudo ao contrário!” As luzes usadas foram apenas as de modelação e a profundidade de campo foi a menor possível, para que os modelos fossem irreconhecíveis. Usei filme a preto e branco e depois de digitalizado diverti-me a assassinar as imagens, criando molduras, imitando os riscos de um filme já pouco saudável. O trabalho final agradou-me. A experiência não tinha sido má de todo, a meu ver, claro.
Terminado e apresentado o projecto que chamei de “Miopia”, por razões óbvias Miopia_Arlindo_Pinto_Fotografia(imagem abaixo), decidi que  tinha que haver algo mais do que “miopia”. Porventura cegueira completa… Fui pensar no assunto de máquina entre mãos para um local movimentado da capital. Pensei mais uma vez na técnica fotográfica e nas possibilidades que ela abria quando as regras são quebradas. Para mim a câmara fotográfica está para a fotografia como o pincel está para a pintura. Instrumentos de desenho que não se limitam a captar o real, mas também a outra faceta desse real que, na tela ou no papel fotográfico ou outro suporte, pode revelar algo que o olho humano, por si só, é incapaz de vislumbrar. As imagens de Peter Witkin estavam sempre presentes. E as de Peter Dazeley também (imagem abaixo).

peter-dazeley.jpgPois que é isso da máquina fotográfica senão um instrumento ao serviço da arte, um instrumento capaz de mostrar um real que quase ninguém vê, mas que nos acompanha 24 horas por dia, em qualquer lugar onde estejamos? E porque não aliar isso à falta de espaço físico identificável? Para quê mostrar algo que à imagem não traz qualquer valor? Deixemos apenas a vida fluir num espaço etéreo, onde só ela importa. Mostremos as cores e os movimentos dos que as usam, dos que lhe dão vida.
Com pensamentos desta natureza em mente, preparei-me para violar as regras, para afrontar os puristas e comecei a disparar e captar tudo o que se movia desde que fosse colorido. Tinha dado início aos “Fios de Vida”. As pessoas começavam a aparecer nas imagens como um mais ou menos estreito fio, um fio repleto de vivências, alegrias e tristezas, enfim um fio de vida. Adorei desde logo a primeiríssima imagem que vi no pequeno ecrã da minha câmara (imagem abaixo).
Estava ganha a tarde de reflexão. Os trabalhos expostos na exposição que decorre, foram sendo fotografados por aí, a sua maioria em Lisboa e um deles em Roma. Para os fãs da “freira azul” de Roma, quero dizer que ela ficou de fora mais uma vez porque… sim!
Desejo deixar aqui um público e reconhecido agradecimento àqueles que foram meus professores, dois dos quais me deram a honra de estarem presentes no dia da inauguração da exposição, o Mário Pires, mestre em estética e o Curado Matos, mestre no preto e branco e mais. Apesar de não poder estar presente, um agradecimento especial ao Ricardo Dias, um professor e também um amigo. Ainda agradecimentos ao Luís Índias e “last but not least”, ao Carlos Marques, mestre de um sem número de fotógrafos portugueses, que passaram e continuam a passar pela “Oficina da Imagem” e meu mestre também.
Um agradecimento final a todos os que passarem pelo Centro de Arte Comtemporânea para ver os trabalhos ali patentes, de que imodestamente me orgulho, quer gostem, quer detestem. O importante na arte é provocar emoções, sejam elas de prazer ou de desagrado. Se assim for, o produto do trabalho do “artista” será notado e isso é que importa.