Relógios

Vivemos realmente o tempo, ou ele foge-nos por entre os dedos? O relógio condiciona inexoravelmente o nosso quotidiano. Voluntariamente ou arrastados, vivemos o dia-a-dia com “falta de tempo”, recorrentemente verbalizando que “tempo é dinheiro”. Contudo, desaproveitamos tempo e perdemo-lo efectivamente, extraviados num mar de superficialidades, apanágio da “vida moderna”, das grandes cidades e das catedrais do consumo…

MIOPIA na Amadora

Originally posted 2009-04-16 20:29:35.

MIOPIA EM EXPOSIÇÃO PELA PRIMEIRA VEZ NA VIDA!

convite_miopiaA primeira vez que vi o Arlindo a fotografar foi logo ali com o que tinha à mão. O impulso que o leva a registar e a procurar formas de expressão fotográfica no seu habitat foi o que mais me saltou à vista. Uma espécie de turbilhão fotográfico pensei eu caracterizando esta atitude do autor de “Miopia”. A fotografia digital trouxe-lhe a ferramenta que precisava para se expressar fora do mundo das leis.

Quebrar regras, não estar limitado pela realidade, usando e reciclando técnicas, este fotógrafo não se fica pelo registo meramente documental. O seu toque pessoal seja no momento do click seja na pos-produção caracteriza-se por esta ousadia que não fica retida no que é esperado. O que seria desta formas expressivas de representação se, tudo se limitasse por palavras concretas e definidas? O “punctum” das fotografias do Arlindo é isso mesmo. Os utensílios para realizar os seus trabalhos fotográficos são usados descaradamente. A luz tem apenas o limite da nossa capacidade de ver e imaginar. Se fotografar é uma forma de olhar viva, o Arlindo é um fotógrafo que recusa essa passividade quando se coloca em posição frontal ao real.

A objectiva é um prolongamento do seu olhar. A objectiva, as ferramentas digitais e a manipulação leva os registos deste fotógrafo a questionarmo-nos sobre o que deve ser a fotografia como forma de manifestação criativa. Usa a fotografia apenas como um meio para expressar a inconstância típica do ser. Um jogo em que as regras da composição gráfica são manipuladas ao ponto de nos levar para paisagens diferentes e que deixam de ser inexistentes. Criar é o que faz sentido a quem se propõe falar através da refinação da luz.

O autor das fotos aqui apresentadas assume neste caso, uma viagem pela miopia mecânica das lentes fotográficas. Neste caso, não há lentes de contacto que nos possam clarificar o que só ao longe se vê. Só ao conseguirmos “reparar” os defeitos da refracção da luz na objectiva provocados pelo fotógrafo atingiremos o alcance da deste trabalho. Afinal, nesta correria contra e a favor de crises quem tem tempo para ver melhor ao longe? A paisagem circundante fica mais leve quando o foco é impreciso. Olhe-se bem! Primeiro ao perto, para depois, conseguirmos a amplitude de percepção necessária para compreender a realidade.

Neste trabalho, o fotógrafo mostra-nos a realidade como ela se nos apresenta: incerta. Um desafio corajoso por entre sombras e silhuetas que ainda assimilamos, mesmo que míopes. Um afastamento da verdade que acredito ser a procura impulsiva do autor. Vagueie-se pelas fotografias desta exposição com familiaridade com a actual alienação popular. Force-se o olhar a ver o que por detrás destas sombras se conta. E é de sombras, formas, seduções que este gigantesco livingroom se alimenta. Veja-se melhor ainda que míopes.

Alípio Padilha
Fotógrafo
www.alipiopadilha.com

Abril 2009

Texto retirado do catálogo em preparação

O Presidente da Câmara Municipal da Amadora, Joaquim Moreira Raposo, tem o prazer de convidar V. Ex.ª para assistir à inauguração da Exposição de Fotografia, “Miopia!”, de Arlindo Pinto, que terá lugar nos Recreios da Amadora, dia 23 de Abril de 2009, às 18h30.

23 de Abril a 17 de Maio de 2009
3ª a Domingo, das 14h00 às 19h00
www.cm-amadora.pt

(ENTRADA LIVRE)
Av. Santos Mattos, n.º 2
Venteira – Amadora
Telf.: 21 492 73 45 – Fax: 21 492 71 80
e-mail: cultura@cm-amadora.pt

Texto retirado do Convite