Há uns dias atrás alguém me dizia, que “a vida não é só arte”. Não posso refutar esta afirmação, que à primeira vista me parece uma verdade de Monsieur de la Palisse. É tão óbvia como a deturpação que Bernard de la Monnoye fez da suposta canção, que os soldados daquele marechal francês lhe dedicaram: “um quarto de hora antes da sua morte, ele estava bem vivo!”
Mensagem de Ano Novo do Administrador
Originally posted 2018-11-03 01:30:19.
Tópicos
1. SOBRE A CRISE
Estamos próximo do intermédio do mês de Janeiro de 2011, o ano do enceto da grande crise. A crise anunciada. Uma crise de século e não de ano. Nem financeira, nem económica, nem orçamental. Uma crise de tudo: valores, solidariedade, honestidade, profissionalismo. Quem ganha terreno é portuguesíssimo chicoespertismo e com ele a desgraça de um povo que dentro do lema “cada um que se desenrasque” podia ter um país ímpar e não tem. Porque o chicoespertismo vai contentando nuns quantos, enquanto outros menos chicoespertos ruminam no silêncio das suas omissões a sua desgraça pessoal, sem coragem para se sublevar, como carneiros que são, esperando D. Sebastião, o líder ou algo que se pareça, pois só os carneiros carecem de líderes. Cada um tem o que merece. Nós temos a nossa parte. Somos carneiros mansos, sem tomates, ovelhas balindo e ouvindo imbecis televisionados pelos canais das novelas. Se querem a minha opinião: vão-se todos fecundar!
Já não tenho paciência para aturar tanto camelo, eu que nem sequer vivo no deserto. O “deserto” de outro energúmeno. Emagreçam o Estado, façam dieta nos Institutos e Empresas Publicas, regressem às Direções-gerais. Somos portugueses porque admitimos “Boys” e “Girls”? Essas palavras nem sequer existem no nosso dicionário.
2. SOBRE A FOTOGRAFIA
Publiquei recentemente no meu sítio uma série de novas fotografias a que chamei “Alegoria do Inferno”. O meu inferno. As razões foram-vos anunciadas aquando da sua publicação. Espero poder vir a exibi-las numa galeria qualquer que nelas reconheça alguma mestria ou interesse estético.
Entretanto começo a pensar na edição de um livro sobre poesia e fotografia, tudo ao molho e fé em Deus. Claro que são tarefas hercúleas. Não estarão interessados em patrocinar? Ah, ah!
Entretanto o Circulo Artístico e Cultural Artur Bual, publicou os meus textos insanos, disponíveis aqui no Planeta, no sítio do próprio círculo, aqui.
3. SOBRE A FORMAÇÃO
Em colaboração com o dito circulo, eu e o meu amigo e colega João Vasco, vamos ministrar um curso de iniciação à fotografia. Um curso extremamente prático e dirigido a todos, demonstrativo que mesmo com uma pequena máquina compacta se pode fotografar melhor.
Por 125€ não conseguem nem maior nem melhor, isso vos digo eu! Se não estiverem interessados em inscrever-se, peço-vos o favor de divulgarem o evento.
Entretanto, em principio, a entrada aqui o Planeta dos Catos, ficará durante o resto do mês com a publicidade ao curso. Depois volta ao seu estilo magazine.
Adeus, até ao meu regresso.
Holiday cheer!
Originally posted 2018-08-15 14:10:01.
ARLINDO PINTO |
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Graffiti!
Originally posted 2018-07-03 11:06:29.
“Graffiti”: arte ou vandalismo?
Infelizmente, digo eu, para a estética das povoações e para o próprio ambiente, as paredes de muitos edifícios estão repletas de “Lettering” de péssima qualidade. Não falo de “Graffiti”, porque muito deste é produto da excelente capacidade artística de muitos. Mas também para outros tantos eu sei que não há distinção, e um e outro são apenas actos de vandalismo indesejáveis que conspurcam paredes públicas e propriedade privada, não respeitando o que quer que seja.
Não tenho essa opinião e entendo o “Graffiti” como uma forma de arte, que existe, aliás, segundo alguns, desde os tempos da antiga Grécia ou a da Roma antiga [“Graffito”. Oxford English Dictionary 2. (2006).(Oxford University Press)]. Eu atrevo-me a dizer que as gravuras do Côa, como forma de arte pública, foram dos primeiros graffitis a ser produzidos, como forma de transmissão de mensagens, culturais, politicas ou de outro carácter. Tudo isto não retira a certos actos de “grafitismo” o epíteto de puro vandalismo, mas como em tudo, ao verso corresponde o reverso. O uso que fazemos das coisas pode ser bom ou mau, bem ao mal entendido! O Graffiti é uma arte de rua, que caminha a passos largos para as galerias de arte. Basta tão só que um qualquer manda-chuva das artes o classifique como tal, para que os acólitos acenem prontamente que sim, que é arte e que se faz já uma lei que proteja os graffitis de outros graffitis…
Por mim, em regra tendo a considerá-los como arte, tudo depende dos locais, da sua valia gráfica ou pictórica e da eventual mensagem ínsita nos mesmos.
Os que aqui deixo, encontrei-os em Faro, no nosso solarengo Algarve, ou como diz o outro “Allgarve”. Passei por lá a caminho do supermercado e voltei mais tarde para os guardar e para agora vos mostrar, já decorrido mais de um ano.
Trabalho, médicos e "Donna Cona"
Originally posted 2018-04-04 20:32:36.
O dever determinou que ficasse em casa todo o dia. Honrosa excepção feita à ida ao otorrinolaringologista. Desde há uns dias que um zumbido me não larga o ouvido direito. Passei a transportar, diariamente, na minha cabeça, uma estação televisiva, depois da hora de fecho. Bom, não sei se actualmente as televisões fecham. A minha desliga, as outras não sei. Não é fácil transportar uma televisão dentro da cabeça. No meio da desgraça e bem à portuguesa, acabei por ter sorte. É. Não conseguiria sobreviver a uma televisão em horário nobre. Seria incapaz de suportar tanta asneira congregada. Suportaria com dificuldade a associação de malfeitores da língua, que legenda tudo o que é estrangeiro, com um português de quem não passou do 1º ciclo. Grave, grave é que não há quem ponha termo à actividade destes “serial killers” da língua de Camões. Aliás, Camões e eu temos muito em comum: ele cego e eu com propensão para surdo. Deficiências físicas que só nos enobrecem o carácter e cultivam a comiseração dos outros comuns mortais. Sei agora, horas depois da visita àquele profissional da saúde, que, afinal, transportava duas televisões. Uma de cada lado. Livrei-me da direita, quedei-me com a esquerda. Sempre é melhor.
“Visita nova a esse médico terás que fazer”, ouvi o mestre Yoda sussurrar. “Que a força esteja contigo”, respondi. Não pude utilizar o restante da frase que houvera pensado para ocasião semelhante, “…e a tu mulher comigo”, porque creio não ter o mestre Yoda, nunca teve, qualquer parelha sexual feminina. Acresce que, sendo o mestre Yoda tão feio como na realidade é, a sua hipotética parceira só poderia, digo eu, alinhar pela mesma bitola. Sendo assim, passo.
Voltando à vaca fria: o dever determinou que procedesse à correcção de provas de determinado concurso. Se a querença para actividade tão sedentária e aborrecida era nula, melhorou, contudo, ao ver os resultados dos empenhados oponentes. Tornou-se uma actividade hilariante. Diversão gratuita. Quereria partilhar com os cerca de, digamos, três leitores desta crónica, a minha experiência e o meu misto de felicidade e desolação. Não obstante, a deontologia não me permite aqui citar verdadeiras pérolas da arte do Direito e da Língua, tudo aposto numa única folha de papel não reciclado.
Salvou-se o dia, pelo facto de poder estar, calmamente, trabalhando e ouvindo, repetidamente (mudar o disco determina uma certa actividade), alguns dos registos fonográficos que se acumulam no meu buraco. Primeiro uma fase de calma, passando por uma outra de pequeno nervosismo, até à euforia do trabalho terminado. Disso fala-se noutra secção.
Mas, salvou-se por outra ordem de razões. Ao tentar encontrar na rede um certo diploma legislativo, um digitar apressado num teclado soterrado por um sem numero de provas e livros, e um Google muito estúpido, faz aparecer no meu ecrã uma extensa relação de cerca de 1.860.000 entradas para a destacada palavra “cona”, afinal a palavra de busca! Fiquei na posse de conhecimentos até aqui inimagináveis. Que, por exemplo, a Wikipédia, numa página que diz ser de “desambiguação”, define a palavra em causa como sendo a “forma popular (palavrão considerado indecoroso) de referenciação ao órgão sexual feminino”. Por aqui, nada de novo. Mas que Cona é um município italiano da província de Veneza, eu não sabia. E também não sabia, embora pudesse, nos melhores dias suspeitar, que CONA é uma organização não lucrativa de enfermeiras canadianas, da área da ortopedia, a “Canadian Orthopaedic Nurses Association”. Mais: há uma empresa aborígene canadina que se move na área da tecnologia que dá pelo nome de “Donna Cona”. O “Cona Group” é uma empresa inglesa que fabrica equipamentos para a industria de restauração, designadamente, máquinas de café de grande estilo. Não esqueçamos, contudo, o “Comité Oceanográfico Nacional” “do Chile, cona, também, portanto. Por último, merece também destaque a “Carriage Operators of North America“, organização não lucrativa da área dos coches.
Abazurdido, fiquei por aqui. Mas, em 1.860.000 entradas, deve haver verdadeiras pérolas.
Por último, fiquei sabedor de uma moça que pinta com a dita. Literalmente. E também com as mamas. A pintura acima é da própria: “Vagina Paintings“.
Boa-noite!
A arte em Pessoa
Originally posted 2015-02-04 00:17:46.
Ora a propósito da arte, também o nosso Pessoa se pronunciou. Só não sei se foi em dia de se passear sóbrio pelo Chiado, ou alcoolizado pelo Martinho da Arcada. Seja como for, aqui fica o que ele e as suas multiplas personalidades sobre a matéria disseram:
A obra de arte é um pensamento tornado vida
A arte baseia-se na vida, porém não como matéria mas como forma. Sendo a arte um produto directo do pensamento, é do pensamento que se serve como matéria; a forma vai buscá-la à vida. A obra de arte é um pensamento tornado vida: um desejo realizado de si-mesmo. Como realizado tem que usar a forma da vida, que é essencialmente a realização; como realizado em si-mesmo tem que tirar de si a matéria em que realiza.
in “Ricardo Reis”
O Objectivo da Arte não é ser Moral nem Imoral
A arte não tem, para o artista, fim social. Tem, sim, um destino social, mas o artista nunca sabe qual ele é, porque a Natureza o oculta no labirinto dos seus desígnios. Eu explico melhor. O artista deve escrever, pintar, esculpir, sem olhar a outra coisa que ao que escreve, pinta, ou esculpe. Deve escrever sem olhar para fora de si. Por isso a arte, não deve ser, propositadamente, moral nem imoral. É tão vergonhoso fazer arte moral como fazer arte imoral. Ambas as [coisas] implicam que o artista desceu a preocupar-se com a gente de lá fora. Tão inferior é, neste ponto, um seminário católico como um triste Wilde ou d’Annunzio, sempre com a preocupação de irritar a plateia. Irritar é um modo de agradar. Todas as criaturas que gostam de mulheres sabem isso, e eu também sei.
in «Orpheu»
O Objectivo da Arte não é Ser Compreensível
Toda a arte é expressão de qualquer fenómeno psíquico. A arte, portanto, consiste na adequação, tão exacta quanto caiba na competência artística do fautor, da expressão à coisa que quer exprimir. De onde se deduz que todos os estilos são admissíveis, e que não há estilo simples nem complexo, nem estilo estranho nem vulgar.
Há ideias vulgares e ideias elevadas, há sensações simples e sensações complexas; e há criaturas que só têm ideias vulgares, e criaturas que muitas vezes têm ideias elevadas. Conforme a ideia, o estilo, a expressão. Não há para a arte critério exterior. O fim da arte não é ser compreensível, porque a arte não é a propaganda política ou imoral.
in «Orpheu»
A Arte Nasce Sempre de Alguma Paixão
Para que a arte possa ser arte, não se lhe exige uma sinceridade absoluta, mas algum tipo de sinceridade. Um homem pode escrever um bom soneto de amor sob duas condições – porque está consumido pelo amor, ou porque está consumido pela arte. Tem de ser sincero no amor ou na arte; não pode ser ilustre em nenhum deles, ou seja no que for, de outro modo. Pode arder por dentro, sem pensar no soneto que está a escrever; pode arder por fora, sem pensar no amor que está a imaginar. Mas tem de estar a arder algures. De contrário, não conseguirá transcender a sua inferioridade humana.
in “Heróstato”