Resteless hero

Originally posted 2015-02-04 00:16:05.

Phil Ochs - Is there anybody here A primeira vez que ouvi Phil Ochs foi em casa do “J”, há muitos anos atrás.
O incêndio em casa, provocado por uma negligente instalação eléctrica “do it yourself” que, para encurtar distâncias, recomendava, ao que parece, o trânsito de fios eléctricos por baixo das alcatifas coçadas e o seu “polegar assassino”, como o “F” alcunhara o dedo mais curto e grosso da mão direita do “J”, por virtude dos estragos que o seu assentar de agulha causava no vinil, haviam deixado o sobrevivente “Chords of Fame” de Ochs de tal forma que, entre o carvão, o pó e ruído de fritadeira, apenas as 2 ou 3 últimas canções de cada um dos lados deste disco duplo eram audíveis. Foi o suficiente para que este albúm póstumo, deste americano crítico acérrimo do sistema, porque verdadeiro patriota, da América dos anos 60, caísse que nem uma bomba (já agora atómica, porque estamos a falar da América) nos meus ouvidos.
Adquiri, desde esses tempos, o hábito ou o vício de ouvir Phil Ochs. Em dias de depressão, em dias de repressão, em dias de raiva e, irónicamente, também em dias de celebrar a vida! No país ou na estranja fui amealhando registos de Ochs.
Seria crime não venerar aqui, na abertura desta página do 70-200.net, uma das canções mais irónicas ou, quiçá, de maior resignação que Ochs escreveu, precisamente, aquela que dá título a este disco que hoje ouço: Chords of Fame.
Phil Ochs, desiludido com a sociedade do seu tempo, com a sua falta de sucesso comercial (contrariamente p. ex. a Bob Dylan, com quem actuou mais do que uma vez) e com a voz arrasada em virtude de um quase completo estrangulamento no decorrer de um assalto de que foi vitima em África, foi suficientemente estúpido para se enforcar em casa da sua irmã, no ano do senhor de 1976, a 9 de Abril. Vendo a coisa por outro lado, talvez fosse apenas uma afirmação de que a vida de cada um a cada um pertence e de que mais vale quebrar do que torcer. Ochs sabia que estava a chegar a um ponto sem retorno, que acabaria os seus dias no anonimato, sem fama, sem glória. E mais grave do que isso: sabia que poucos lhe tinham dado ouvidos. O “establishment” que tanto criticara acabaria por vencê-lo. Foi-se enquanto herói de alguns. Preferiu isso, a ser apenas mais um número! Mas, contráriamente, ao que cantava em “Song of My Returning”, “I’ll be back again no matter where I go”, o facto é que o não fez! Se tivesse conseguido esse feito, melhores dias teria por certo. A receita venderia que nem água no deserto!
Para terminar, enquanto está à secretária, mesa, banco, sei lá, ignore isto tudo, vá à garrafeira buscar uma garrafa do seu melhor bourbon e coloque este disco (se não tiver este coloque outro de Phil Ochs) (se não tem nenhum de Phil Ochs, compre-o ou “baixe-o” da internet) no seu gira-discos, no seu leitor de CD ou de mp3, qualquer coisa.
Parafraseando Sean Penn: “It’s Phil Ochs – my favorite all-time “fighter.”

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