Originally posted 2015-02-04 00:18:19.
Hoje mesmo, dia da publicação da já infame Lei n.º 12-A/2008, que estabelece os regimes de vinculação, de carreiras e de remunerações dos trabalhadores que exercem funções públicas, alguém me enviava um SMS, de um número que continuo sem reconhecer, dizendo que o Eng.º (carece de confirmação) “Sócrates perdeu hoje a maioria absoluta em 2009 e talvez as eleições.” E continuava pressagiando que aquele diploma “ foi a sua sentença de morte”. E ainda que “os funcionários públicos não vão perdoar a Sócrates e a ÚNICA forma de demonstrar a sua insatisfação é “NÃO VOTAR PS em 2009!” Rogava no fim a reexpedição para todo o circulo de amigos, conhecidos, de pouca e de há longa data e blá, blá, blá.
Apesar de não saber quem foi na verdade o mensageiro, interrogo-me quem lhe terá confiado a mensagem. Ou nem quiçá existiu mandante. Foi o mensageiro, ele próprio, áugure de tão grande desdita para o partido do governo, o engendrador do texto que tão má fortuna augura, a quem daquela forma amesquinha os funcionários públicos.
Seja como for, com ou sem mandante, o facto é que, sem desmerecer do carácter patrício e oportunidade da mensagem, temo que o postilhão seja apenas mais um carneiro, perdido no rebanho nacional da porca da nossa democracia, onde todos querem mamar. Repentinamente fugiu-me a escrita para a brejeirice. É da raiva, da raiva de pertencer aqui e gostar.
O postilhão, augure da derrota eleitoral do engenheiro (a confirmar), é, em boa verdade, um carneiro, qualidade que sobrevém do facto de enfatizar que “NÃO VOTAR PS”, como maiusculiza na mensagem, é a “ÚNICA” feição que o rebanho tem de mostrar ao líder, que definha, que mais apostado está na morte ou numa débil sobrevivência, num amorfismo que o conduzirá, agora profetizo eu, à destruição, do que num balir alto que o líder é falso e embusteiro e que não precisa dele. Se pudesse seria assim, mas não é. E não é porque o povo é um rebanho e os rebanhos, e só os rebanhos, carecem de líderes. Líderes, pretensos arautos da interpretação da vontade popular, mas, no fundo, mamões numa porca já subnutrida.
Sou português. Gosto de ser português. Gosto do meu país, mas não me digam mais que o voto é uma arma e, ainda por cima, que é a ÚNICA, capaz de traduzir a vontade popular, a vontade de adoptar chefes, mandatando-os para sugar na porca, que, por mais pão que tirem da boca do povo, não conseguem engordar.
Somos um povo, rebanho lamentável! Sempre fomos!
Guerra Junqueiro, em “Pátria”, descreveu em 1896, o rebanho de 2008, que assim há-de perdurar pelos tempos fora, burro de carga, admirador de pantomineiros:
Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. [.]
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.
Viva Portugal!
Força Viva Portugal
A gamela é sempre a mesma os porcos é que variam
Arranja-me uma G3 que eu vou para a guerra hoje mesmo!
Não se hão-de ficar a rir…
Filhos daquela grandessissima puta!
CM