Originally posted 2018-11-15 07:15:26.
O dia de hoje ficará para sempre classificado na minha história pessoal, como “dia horribilis”: choveu, fez frio, a roupa dependurada não secou… enfim, tudo tragédias praticamente gregas, que só adensaram ainda mais o já de si perfeitamente obtuso e despojado dia da semana que é o Domingo.
O fim-de-semana acaba por salvar-se pelos encontros com amigos de longa data, proporcionados pelos implacáveis aniversários de alguns deles, tudo regado a preceito, por entre volumosas baforadas de charutos cubanos.
No entanto, este intróito a propósito de mais um melancólico Domingo, em nada está relacionado com a razão fundamental que hoje aqui me traz à vossa sempre digna e respeitosa presença.
A razão é bem outra. Dá-me para dissertar. Algo que não faço muito amiúde. Vem a dissertação a propósito do amor, do que fica quando ele acaba e do bem (ou mal) que nos fez ele. Escrever-se abertamente sobre relações é já de si admirável novidade, aqui por estes lados. Fazê-lo usando a minha própria experiência é, no mínimo, estranho ou, melhor, totalmente anormal e um provável desastre…
Há uns meses atrás, concordava com alguém do sexo oposto que afirmava, em traços largos, que as relações entre as pessoas, em particular entre homens e mulheres, só valem efectivamente a pena se os enriquecerem mutuamente, no plano intelectual, espiritual e, por que não, físico. Sim, sexo! E, digo eu, só devem durar enquanto assim fôr. Caso contrário, estaremos pateticamente a alimentar um morto-vivo, algo que, na gíria, “não é carne, nem é peixe”.
As pessoas, as das relações, que efectivamente interessam, são as que nos desvendam um escaparate de outras possibilidades, de vidas alternativas, mesmo que nelas possamos não estar interessados, de formas de estar diferentes, modos de sugar da vida tudo o que de melhor a mesma tem para nos oferecer. Esses seres que passam pela vida como que com a missão de nos agitarem o corpo e a consciência, as ideias feitas e a nossa estrutura moral, básica e decadente.
Por vezes isso é doloroso, como doloroso é saber que nem tudo aquilo em que acreditamos é verdadeiro, ou de que parte do que somos não é mais do que o produto de uma série de equívocos de que nós próprios nos persuadimos, incapazes de enfrentar os nossos medos, as nossas fraquezas, enfim, os nossos fantasmas de estimação. Confrontados e desestruturados, percorremos caminhos outrora impensáveis de introspecção e avaliação pessoal até que chega a hora das decisões.
Decisões que podem ou não, em função do nosso querer e dos objectivos de vida que elegemos, mudar a forma como vivemos o tempo terreno. Depois disso, ficamos por nossa conta e entregues ao nosso livre arbítrio, mas com pilares distintos, sobre os quais podemos construir uma nova felicidade.
Quis o destino que eu me cruzasse, com um desses seres humanos. Diferente. Distinto do comum dos mortais e com ele repreendesse o sentido da vida (não tem nada a ver com o dos Monty Pyton). Sou do tipo Cavaco Silva, “bom aluno”, quando quero apreender. Mas também estou disponível para “ensinar”. Contudo, destes “ensinamentos” não posso eu falar ou sobre eles escrever. Alguém, um dia, o fará.
Como tudo acontece por uma qualquer razão (alguém diz e eu começo a acreditar que sim), certo tipo de relações começa e termina. Isso nada tem de grave. A mudança faz parte da natureza humana, a regeneração é inerente à dinâmica da vida. A questão está em saber onde ficaram os momentos que os elementos da relação passaram juntos e se o termo da mesma não deitou tudo a perder. O que é verdadeiramente importante é que tudo permaneça, para sempre, num canto do órgão que nos bombeia pelas entranhas o sangue da existência. Isso permanece e assim a ligação, ainda que meramente espiritual e etérea, também. Passa o vendaval, ficam as marcas. E isso é bom!
“Yes, its a sad sweet sorrow”!
Que os pés não nos doam nas nossas jornadas!
Meu querido Arlindo, simplesmente uma palavra – ADOREI – !! Mas uma palavra seria demasiado pobre para comentar este teu “dissertar” numa prosa inspirada numa vivência que te levou a escolher uma forma de discurso diferente do teu habitual 🙂 Mas isso porventura será devido a uma transformação que já começou a notar-se. Olha que talvez não fosse o destino a oferecer-te a oportunidade desse “encontro” de que falas mas sim tu próprio a motivá-lo, ainda que inconscientemente. Ah sim, é verdade… tudo acontece por uma razão … Hummm… quem havia de dizer que começasses também a pensar desse modo!!! E já agora, uma citação que traduz a minha filosofia de vida (sim… essa mesma filosofia que vejo ter-te tocado durante o tempo em que nos “cruzámos”): “It is good to have an end to journey towards, but it is the journey that matters, in the end.”
O que mais importa é essa “jornada” que nos estimula, nos fortifica, nos enriquece, nos faz crescer e ficarmos diferentes e, quiçá, melhores. São essas várias jornadas, a sós ou acompanhados, que somadas fazem a nossa vida e, se pudermos olhar para todas elas sem ressentimentos, desilusão ou pena, então poderemos caminhar sempre em frente, de cabeça erguida e de ânimo renovado.
Que fiquem as marcas e que continuemos a nossa jornada!!
Um grande beijo.