Para lá da estrada

Originally posted 2015-02-04 00:15:53.

man-dog
Fancis Bacon - MAN DOG

O cão sentara-se havia pouco.
O deserto crescia, crescia sem parar
junto ao calcanhar da palmeira daquele oásis
plantado à beira da estrada descalça,
que conduzia a “Megalópolis”, a cidade desgraçada
de luzes frias e chuva tão intensa
que os pés se perdiam na lama da estrada circular,
que aquele rafeiro axadrezado percorria do nascer ao ocaso.
Sete ventos varreram a cidade maldita,
que era uma aldeia triste e sombria do interior
com musas e papalvos, saloios de venta roída pelo frio,
bem sepultados em sarcófagos de tédio irrespirável,
de tal modo as meias do assalto ao banco me sufocavam a voz,
que corria derretida da caminhada
em torno daquele velho deserto do cão,
que era amigo do homem, até que este,
fodido da vida,
lhe pontapeou os tomates inchados da glória de não montar.
E o deserto era já tão intenso que o dilúvio nada poderia
contra as areias cálidas de uma tarde de verão
junto ao asfalto do cão.
Três cães.
Eram três cães e votaram: logo a vida se afogou
no dilúvio sumarento da prostituição e da chulice,
onde se tropeçava como se os pés de uma cabra fossem razão suficiente
de um orgasmo ordinário.
Três carros!
Três resplandecentes “Mercury”.
Um peão morto e o deserto.
Ah, esse crescia. E crescia sem parar.
Crescia até ficar tão longe,
que os olhos de uma águia se perfuraram nos cornos de um boi corpulento
que era o cão morto, desfeito, apodrecido
em sangue corrente tipo EPAL
e os miolos verdes eco-lógicos,
amarelados pelos sete ventos gelados do norte
espalharam três tumores por cabeça de fome de preto.
Todos gostaram do sexo do animal putrefacto,
decomposto em quadradinhos de chocolate envenenado
pelos políticos do tesão.
E assim os porcos que saltitavam alegremente
num antro de esterco impossível,
nada puderam contra a areia pequenina da estrada de
“Megalópolis” do cão e da morte coberta
pelo deserto que parou no início do
fim do mundo.

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