Chuva assassina

Originally posted 2018-12-07 17:51:53.

Chuva assassina

Debruçado na minha varanda
Escuto o murmúrio da chuva que cai reta
Deixo a noite envolver-me e abraço-a
Como a uma amante recente
Onde tudo é volúpia e desejo incontrolado
Semicerro o olhar e engendro o devir
A paranóia doentia do dia a seguir à noite
Persisto teimosamente e com desvelo a
Existir no ânimo da escuridão
Olho o horizonte e nada alcanço que não tenha visto já
Apenas o mesmo local, agora ensopado, telúrico
Os avejões já decrépitos
Os companheiros de tantas disputas
Clamam por mim e não os escuto
O ruído não se permite esta noite
Ainda que de amigos moribundos
O compasso da chuva mantém-se e danço ao seu som
Percorro, bailarino, o salão de festas
A minha varanda e a minha chuva
Encharco os cabelos esparsos e humedeço os ossos que me doem
Um sofrimento que me arrasta para o precipício
Bailo e percebo que o fim está perto
Chuva assassina

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