Breve história da fotografia

Originally posted 2015-02-04 00:13:41.

Prólogo

O presente texto pretende uma forma simples, directa e concisa, dar uma ideia da evolução da fotografia: dos primeiros passos de Aristóteles (se quisermos recuar bastante no tempo), até às sofisticadas câmaras digitais de hoje em dia!

A câmara escura ou obscura, o princípio da fotografia

A fotografia não tem um único inventor. Ela é uma síntese de várias observações e inventos em momentos distintos. A primeira descoberta importante para a photographia foi a “câmara obscura”. O conhecimento de seus princípios ópticos atribui-se a Aristóteles, muitos anos antes de Cristo.
Diz-se que, sentado sob uma árvore, Aristóteles observou a imagem do sol, durante um eclipse parcial, a qual se projectava no solo em forma de meia lua quando seus raios passavam por uma pequena abertura entre as folhas. Terá também observado que quanto menor fosse a abertura, mais nítida era a imagem. Estava, sem saber, perante o efeito óptico que se passou mais tarde a designar-se de profundidade de campo, uma verdade absoluta em fotografia e nos termos da qual, a formação de imagens dentro da câmara escura, é tanto mais nítida quanto menor for o orifício que deixa entrar a luz. Este efeito foi também notado no séc. X por Ibn Al-Haitham e mais tarde por Roger Bacon no séc. XIII e pelo físico holandês Reinerius Gemma-Frisius no séc. XVI, autor da primeira ilustração conhecida de uma câmara escura.
No século XIV já se aconselhava o uso da câmara escura como auxílio ao desenho e à pintura. Leonardo da Vinci descreveu esse fenómeno físico no Codex Atlanticus:
camara escura“Quando as imagens dos objectos iluminados penetram num compartimento escuro através de um pequeno orifício e se recebem sobre um papel branco situado a uma certa distância desse orifício, vêem-se no papel, os objectos invertidos com as suas formas e cores próprias.”
Alguns, na tentativa de melhorar a qualidade da imagem projectada, diminuíam o tamanho do orifício, mas a imagem escurecia proporcionalmente, tornando-se quase impossível ao artista identificá-la.
Este problema foi resolvido em 1550 pelo físico milanês Girolamo Cardano, que sugeriu o uso de uma lente biconvexa junto ao orifício, permitindo desse modo aumentá-lo, para se obter uma imagem clara sem perder a nitidez. Ao permitir aumentar ou diminuir o orifício de entrada da luz de forma controlada criou-se o primeiro “diaphragma”.
O aperfeiçoamento das câmaras escuras permitia que qualquer imagem fosse reflectida perfeitamente num papel, e essa ideia foi muito usada por artistas, mas para fixar as imagens no papel, foi necessária a ajuda da química.

A química, em auxílio da fotografia

A química revelou-se um elemento decisivo na obtenção de verdadeiras fotografias. Até aí a câmara obscura servira para desenhar…
Ligados à evolução do processo químico da fotografia estão Angelo Sala, Johann Schulze e Thomas Wedgewood. Josiah Wedgewood, filho de Thomas, usava-a constantemente para desenhar casas de campo e copiar os desenhos nas suas famosas porcelanas.heliografia
A primeira que pode chamar-se fotografia foi obtida por Joseph Nicéphore Niépce, usando uma placa de estanho com betume branco, deixando-a durante oito horas numa câmara escura voltada para o quintal de sua casa. O processo foi chamado ‘heliografia’, uma vez que usava a luz solar.
Outro entusiasta contemporâneo de Niépce, que procurava obter imagens impressionadas quimicamente era Louis Jacques Mandé Daguerre. Em 1827, Niépce associou-se a Louis Daguerre e os dois prosseguiram as suas investigações em comum.
Depois da morte de Niépce em 1833, Daguerre continuou as suas experiências em Paris, com chapas revestidas a prata e sensibilizadas com iodeto de prata, abandonando definitivamente o betume. Em 1835 descobriu que o vapor de mercúrio revelava as imagens, o que permitia reduzir radicalmente a duração da exposição. Mas faltava saber como parar a ação da luz sobre a prata, o que provocava o escurecimento da imagem até ao seu desaparecimento. Em 1837 Daguerre descobriu um processo para interromper a ação da luz, com um banho de cloreto de sódio (sal vulgar). Data desse ano aquela que é considerada a primeira fotografia baptizada de “daguerreótipo”.Daguerreotype_Daguerre_Atelier_1837
Willian Henry Fox-Talbot, cientista inglês, usou o processo de Daguerre para aperfeiçoar as suas próprias experiências com a câmara escura, criando os termos “fotografia”, “negativo” e “positivo”.
Em 1835 Talbot construiu uma pequena câmara de madeira, com somente 6,30 cm2, a que sua esposa chamava “ratoeira”. A câmara foi carregada com papel de cloreto de prata e, de acordo com a objectiva utilizada, era necessária de meia a uma hora de exposição. A imagem negativa era fixada em sal de cozinha e submetida a um contacto com outro papel sensível. Desse modo, a cópia apresentava-se positiva, sem a inversão lateral. A mais conhecida mostra-nos a janela da biblioteca da abadia de Locock Abbey, considerada a primeira fotografia obtida pelo processo negativo/positivo.
Como o negativo da talbotipia não era constituído de um papel de boa qualidade como base de sensibilização, na passagem para o positivo se perdiam muitos detalhes devido à fibrosidade do papel. Muitos fotógrafos pensavam em melhorar a qualidade da cópia, utilizando como base o vidro.
Em 1851 Frederick Scott Archer (escultor inglês) publicou um artigo sobre as vantagens da utilização de colódio húmido, que se tornou extremamente popular na fotografia aplicado em positivos de vidro, chamados Ambrotypes, na sua versão americana
Archer criou o processo de revelação de fotos e o antecessor do filme fotográfico, permitindo imagens muito mais nítidas do que as feitas até então.
Em Setembro de 1871, um médico e microscopista Inglês, Richard Lear Maddox, publicou no British Journal of Photography suas experiências com uma emulsão de gelatina e brometo de prata como substituto para o colódio. O resultado era uma chapa 180 vezes mais lenta que o processo húmido, mas com o novo processo aperfeiçoado e acelerado por John Burgess, Richard Kennett e Charles Benett, a placa seca de gelatina estabelecia a era moderna do material fotográfico fabricado comercialmente, liberando o fotógrafo da necessidade de preparar as suas placas. Rapidamente várias firmas passaram a fabricar placas de gelatina seca em quantidades industriais.

As máquinas fotográficas

Toda a química envolvida na vida de um fotógrafo começou a ser simplificada com a criação de placas secas com uma espécie de gelatina que já traziam os compostos químicos necessários para uma fotografia. Com a criação do celulóide, por Alexander Parkes em 1861, os últimos problemas visíveis nas placas secas (fragilidade e peso) foram resolvidos.
Abria-se assim uma nova época para a fotografia. Na origem o suporte era vidro coberto com uma emulsão de brometo de prata colocada sobre gelatina especialmente preparada. Em 1883 o vidro, frágil e de manuseio difícil, foi substituído pelo celulóide (o que se pode considerar como a primeira película) e fabricou-se este material em folhas padronizadas com uma espessura de cerca de um quarto de milímetro. E assim chegou-se, em finais do séc. XIX, com a contribuição de muitos pesquisadores e inventores, à fotografia sobre película em rolos de papel, substituível mesmo à luz do dia, fabricada e vendida a partir de 1888 pela Eastman Company de Nova Iorque.
George Eastman, fundador da empresa Eastman Kodak Company, usou a ideia para criar um filme de nitrato de celulose (o celulóide usado na época) que era colocado em uma máquina fotográfica.kodak 1
A cada foto, o filme era enrolado num carretel e no final do processo, o filme era enviado para a fábrica, onde era revelado. O funcionamento do equipamento (Kodak n.1, lançado em 1888) é a descrição exacta de como funciona uma câmara fotográfica tradicional. Era do tipo “caixão”, leve e pequena, carregada com um rolo de papel para 100 exposições. O preço da câmara carregada, estojo e correia era de 25 dólares. E o slogan “Você aperta o botão e nós fazemos o resto” mostra que a fotografia podia agora ser feita por qualquer pessoa, sem conhecimentos de química.
A empresa Kodak abriu assim portas a um mundo onde todos podiam tirar suas fotos, sem necessitar de fotógrafos profissionais.
Desde então, o mercado fotográfico tem experimentado uma crescente evolução tecnológica, como o estabelecimento do filme colorido como padrão e o foco automático, ou exposição automática. Essas inovações indubitavelmente facilitam a captação da imagem, melhoram a qualidade de reprodução ou a rapidez do processamento, mas muito pouco foi alterado nos princípios básicos da fotografia. Todo o processo químico envolvido na revelação dos filmes exigia, não conhecimentos na área da química, mas laboratórios que a realizassem exigindo aos utilizadores o recurso sistemático a estes laboratórios para poderem revelar e imprimir as suas fotografias.

A era digital

A grande mudança recente, produzida a partir do final do século XX, foi a digitalização dos sistemas fotográficos. A fotografia digital mudou paradigmas no mundo da fotografia, minimizando custos, reduzindo etapas, acelerando processos e facilitando a produção, manipulação, armazenamento e transmissão de imagens pelo mundo. O aperfeiçoamento da tecnologia de reprodução de imagens digitais tem quebrado barreiras de restrição em relação a este sistema por sectores que ainda prestigiam o tradicional filme, e assim, irreversivelmente ampliando o domínio da fotografia digital.
O conceito de fotografia digital apareceu juntamente com a guerra fria e a corrida espacial. Afinal de contas, como fotos do espaço e do país rival poderiam ser tiradas a milhares de quilómetros de altura se o filme não pudesse ser trazido à Terra para ser revelado?
Sony MavicaA primeira tentativa de se criar uma câmara digital foi feita em 1975, por Steven Sasson, da Kodak. Usando o novíssimo chip CDD de detecção de imagens, desenvolvido pela Fairchild Semiconductor em 1973, o protótipo pesava mais de 3 quilos, gravava imagens em preto e branco, tinha uma resolução de 0.01 megapixéis (10 mil pixéis) e precisava de 23 segundos para capturar uma imagem! Imagine-se!
No ano de 1981 a Sony, tradicional fabricante de equipamentos lançou, a MAVICA, (magnetic video camera), a primeira câmara com sensor electrónico que gravava imagens ainda analógicas numa disquete.
A primeira câmara verdadeiramente digital para uso público foi a Kodak DCS-100, de 1,3 megapixel, desenvolvida pela Kodak e Nikon e lançada em 1991. Essa câmara, montada no corpo de uma Nikon F3, transferia arquivos digitais coloridos ou em preto e branco para um dispositivo que o fotógrafo transportava em uma mochila. Era um sistema pesado, pouco ágil, mas revolucionário.Nikon
A comercialização das câmaras digitais começou apenas em 1986, com a Canon RC-701, mas a preços proibitivamente absurdos: 20.000 dólares!
A primeira câmara digital lançada comercialmente foi a Dycam Model 1, em 1990, com capacidade de se ligar a um PC ou um Mac para transmitir as fotos.
Em 1991, a Kodak lançou a DCS-100. Esta foi a primeira câmara digital profissional a usar o sistema SLR (single lens reflex), que utiliza espelhos e uma única lente para garantir que aquilo que o utilizador vê é o que será efectivamente fotografado. Usando o corpo de uma câmara da Nikon, ela tinha uma resolução de 1,3 MP.
Nos anos seguintes, vários modelos de câmaras digitais foram lançados, trazendo inovações facilmente vistas hoje em dia, como a Fuji DS-200F em 1993 (primeira com memória flash embutida), a Apple Quick Take 100 em 1994 (primeira câmara digital colorida), a Nikon Zoom 7000 QD em 1994 (primeira com função de estabilização de imagens), a Casio QV-10 em 1995 (primeira câmara com visor de cristal líquido) e a Ricoh RDC-1 em 1995 (primeira que permita gravar fotos e vídeos).
Todas estas câmaras apresentavam uma baixa resolução de imagem. A resolução é baseada no sensor CCD (Charged Coupled Device) (ou CMOS) usado no equipamento para converter os fotões (unidade básica da luz) em imagem. De forma básica, o sensor é formado por milhões de “alvos” que contam a quantidade recebida de fotões – isto significa que, quanto maior a quantidade de ‘alvos’, maior a resolução da foto, pois mais fotões foram percebidos.
Na fotografia digital a resolução da imagem produzida é fundamental, não para a qualidade intrínseca da imagem, mas para a dimensão do produto final que quer produzir-se, problema que não se coloca no filme. Adiante abordaremos também esta questão.
Hoje em dia qualquer câmara “amadora” apresenta resoluções superiores às necessidades do utilizador: 12 milhões de pixéis são vulgares em câmaras desse patamar, o que nos conduz ao “mito do pixel”!

O mito do Megapixel

O mito do megapixel foi iniciado pelos fabricantes de câmaras e engolido pelos consumidores. Os fabricantes de câmaras usam o número de megapixéis duma câmara para nos levar a pensar que isso tem algo que ver com a qualidade da câmara. A ideia transmitida é a de que quantos mais megapixéis melhor a câmara. Não há nada de mais errado.
É apenas um artifício usado por vendedores e fabricantes para sentirmos que a nossa máquina actual é insuficiente e precisa de ser substituída, mesmo que as novas câmaras sejam apenas um pouco melhores.
Infelizmente, é tudo um mito, pois o número de megapixéis (MP) de uma câmara tem muito pouco a ver com a forma como o aspecto da imagem final. Mais grave, boas câmaras com baixa resolução podem fazer imagens melhores do que as câmaras mais pobres e com mais MP.

Epílogo

Desde o advento do digital que se assiste à discussão o que é melhor: o filme ou o CCD (o analógico ou o digital)?
A verdade é que se trata de uma discussão estéril! O digital democratizou definitivamente a fotografia, tornando-a acessível à generalidade das pessoas. Não é melhor nem pior do que qualquer outro método usado para fotografar: é diferente. É apenas mais um instrumento colocado à disposições dos utilizadores para fazerem fotografia, seja ela amadora ou profissional, ou simplesmente “doméstica”.
É o mesmo que discutir se usar o cabelo curto é melhor do que usar o cabelo comprido e vice-versa. Um e outro corte terão vantagens e desvantagens para quem o usa. Nada mais.
Por outro lado, é importante lembrar que ”quem faz a fotografia não é a câmara, mas sim o fotógrafo”.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fotografia
http://www.kenrockwell.com/tech/mpmyth.htm

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