A Marcha

Originally posted 2018-04-21 02:11:47.

Torre de BelémSentíamos degolados a marcha da morte e
Henriques, Afonso,
católico da miséria sacra,
paria o gozo infinito do homem e
aplaudia em espasmos transbordantes de patriotismo incrédulo,
o saque ávido das crenças mundanas do infiel mouro.
O rei,
sorvia claustros sangrentos,
vómitos de sangue,
encharcado na ferrugem da espada embainhada
no ócio lusitano,
enquanto Portugal afundava a glória
nas vagas heréticas da consciência estéril e
a musa camoniana abortava borbulhante o império destruído
em orgias de poder decrépito.
Hasteávamos o estandarte do diabólico Cristo e
Inês, na exiguidade das suas flácidas formas,
embrutecia-se no despudor dos filhos bastardos.
Na escuridão húmida do horizonte rutilante,
a igreja conquistava na fé do demónio,
a loucura tépida do sexo africano e
as muralhas de além-mar ruíram com estrondo,
quando o adormecido mundo português deixou em
Alcácer a honra destroçada das conquistas
dos mares do sul.
O caldeirão abriu azul o inferno em
clamoroso uivo de lobo subalimentado e
as especiarias choveram rectas.
Reconhecemos Sebastião que
masturbava viril a juventude imberbe do
seu agonizante reinado e
com a força de um Adamastor,
trilhámos os pulsos em gritos de raivoso entardecer,
enquanto as mamas virgens da república
endureciam os conquistadores do contrabando norte-africano.
Esquartejámos reizinhos inchados de clisteres,
desventrámos prazenteiramente as princesas pedinchonas e
um calor metálico escorregou cortante
no peito dos guerreiros,
que deixaram nos bolsos remendados uma amálgama
de massa cinzenta.
Dobraram finados os monarcas e
uma imensa trupe de lacaios banqueteou-se em Aljubarrota
nas tábuas enfarinhadas do forno aquecido,
procriando com zelo lusitano
os filhos que edificarão em glória efémera
o mijo do quinto império.

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