Ser Ainda O Outro

SER AINDA O OUTRO

Ser Ainda o Outro 
Se eu me sentasse comigo próprio fazendo de outro, que resposta daria à pergunta, “quem sou seu?”
A imagem que de mim devolve o espelho, essa atulhada de medos, fantasmas, sonhos e alegrias aqui e ali trocadas por tristezas e dores infinitas de existências divergentes, é apenas uma ficção efémera de outros tantos eus que sou e outros que desejo ser. Quando o espelho se quebra, como Pessoa, “em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim”, imagens esparsas do eu.
Sou uno e fragmentado. Eu e o outro que se esconde. E ainda outrém. Uma alma, que desperta, se atormenta com o não ser os eus sonhados. Esquecido, regresso sempre ao que julgo que sou e o espelho me devolve.
“Ser Ainda o Outro” é a vontade de ir além do espelho, de confrontar a imagem especular, a própria definição do eu, e entender que a identidade não é apenas o que sou, mas também, aquilo que deixei de ser e o que não sou. É uma discussão interior, um teste de autoconhecimento, com disponibilidade para perceber que o passado não se muda e que para evoluir e ser quem sou, tenho que abrir mão de parte de mim para salvar o todo e me construir a cada momento, sonhando até ser um outro talvez inatingível.
As imagens não contemplam futuro, apenas o hoje das experiências a que as memórias e os projetos de ser outrora concebidos me trouxeram. Mas é nelas que assenta o devir de um outro eu. Um novo projeto de ser, um sonho e é o sonho que me mantém acordado e vigilante.

©2018

Livro de Artista do Projeto “i”

Livro de Artista do Projeto “i”

Livro de Artista do Projeto i

A apresentação do livro relativo ao Projeto “i”  terá lugar no dia 17 de novembro, pelas 18h.30m no Palácio Pancas Palha, Travessa do Recolhimento Lázaro Leitão, nº 1, 1ª andar, Lisboa. São naturalmente bem vindos e a vossa presença é apreciada. A laia de contextualização fica abaixo um pouco da história da construção deste livro “sui generis”.

*

O projeto “i” nasceu no âmbito da Escola Informal de Fotografia em 2017, sob a orientação de Susana Paiva, tendo como pano de fundo o “Elogio da Sombra” de Junichiro Tanizaki e o universo japonês Wabi-Sabi, tal como sobre ele escreveu Leonard Koren em “Wabi-Sabi for Artists, Designers, Poets & Philosophers”.
O “Elogio da Sombra” serviu de base ao “draft” conceitual do projeto e à safra de imagens que foram colhidas em fevereiro, março, abril e novembro de 2017. Além da penumbra tão cara a Tanizaki, o grosso das imagens revelava contrastes muito acentuados e sombras muito profundas, em locais onde apenas uma luz muito ténue era admitida, sem luz solar direta ou luz qualquer luz artificial. As imagens eram nítidas e precisas, de arestas cortantes, ângulos e linhas bem definidos. Apesar de evocarem a importância, segundo Tanizaki, da obscuridade no modo de vida tradicional japonês, em si mesmas consideradas, não satisfaziam, segundo o seu autor, os conceitos de transitoriedade, imperfeição, impermanência e incompletude, a que a beleza das coisas está submetida, segundo o conceito de Wabi-Sabi de Koren. Isso iria requerer um processo criativo assente a montante num erro/acaso, que descaradamente se usou como formula de experimentação para a criação final das imagens, todas elas únicas e perspetiveis. Citando Lazslo Moholy-Nagy, 1947, por seu lado citado por Magda Fernandes & José Domingos in “A salvação da fotografia vem da experimentação”. Não temos a pretensão da salvar a fotografia, nem nos preocupa, como se questionam aqueles autores, se “Poderá o acaso continuar a assim chamar-se, se deliberadamente o procuramos?”
As imagens de “i”, como se lê no Artist Statement do autor, “são imagens de paciência, construídas pacientemente, para observadores pacientes”. Que outra coisa dizer de imagens cuja construção obedece a um processo de impressão doméstica a preto e branco, no verso de papel fotográfico, terminadas usando um secador de cabelo?
O livro que agora se dá a conhecer continua a obedecer aos princípios estéticos que no início e ao longo do processo da sua construção apelavam ao acaso e à imperfeição. Para isso muito contribuiu o workshop com Paula Roush, “Page Turner”, em novembro de 2017. O livro, fugindo do convencional, não o afronta tão radicalmente como estamos certos a Paula apreciaria, mas comunga ele próprio de três simples realidades: nada dura, nada é completo: nada é perfeito.
“i” foi totalmente manufaturado. À exceção da impressão, ela própria exigindo uma atenção redobrada em relação a um processo normal de impressão, tudo o resto é fruto de braço. É portador de uma beleza onde já não se torna suficiente só olhar, é preciso ter tempo para ver. A beleza e a pressa são antagónicos e esta impede que se desfrute daquela, porque há uma importante auto-jornada para encontrar e apreciar o que está mais escondido.
“i” é um exercício de paciência, generosidade e simplicidade.
Esperamos que o desfrutem como ele merece.

Project i

Project i

Project i [PT]

Entre a “Sombra” de Tanizaki e a estética Wabi-Sabi existe nada: o nada para que devoluem ou evoluem todas as coisas, a base metafisica de um universo de beleza de coisas imperfeitas, impermanentes e incompletas. Uma beleza não convencional. A beleza das coisas modestas e humildes encontradas por entre as matizes da sombra e da penumbra.
No discreto e negligenciado encontramos a grandeza. E poderemos nós encontrar grandeza nas imagens de “i”? A retórica da estética ocidental pode, como tudo se pode, não lhe reconhecer a ideia de monumental e espetacular beleza. Pois não pode! Nem sequer deve! Porque não ostentam tais qualidades, nem pretendem ostentar. “i” são imagens de paciência, construídas pacientemente, para observadores pacientes. São sobre o menor e o oculto, a tentativa e o efémero: é preciso olhar. Ir devagar. Olhar de perto.
E quando olhamos, revela-se a diluição das fronteiras do referente, oscilando as imagens entre o abstrato e o figurativo, mostrando-se cruas, corroídas e contaminadas. A organização geométrica das formas, nítidas e precisas, foi deliberada e ostensivamente substituída por talhos suaves, ângulos e linhas vagos e pouco definidos. Não lhe subjaz a perfeição ou a preocupação do fino acabamento. Anulou-se a geométrica organização da forma e aceitou-se que se acomodassem elas próprias de forma orgânica. Ter-se-ão tornado naturalmente imperfeitas, por sua própria vontade. E que importa isso às imagens? Nada, absolutamente nada! Nada existe sem imperfeição.
Onde é existem estas imagens, imperfeitas, estranhas, vivendo no escuro, espreitando na penumbra. No papel ou no ecrã, na memória ou na pele, acabarão por se desvanecer e cair no esquecimento e não inexistência. Existem apenas numa ilusão da permanência. Não permanecerão. São impermanentes.
Estão ou não terminadas estas imagens e que nos querem dizer? Em que se tornarão e o que dirão depois? Como todas as coisas, incluindo o universo que conhecemos e o que não conhecemos, as imagens estão num infinito estado de se tornar algo ou de se dissolver. São um processo. Nunca estarão completas. Sobrevivem num estado de incompletude!
É isto que sabemos e isto que aceitamos: a beleza das coisas imperfeitas, impermanentes, e incompletas. Quiçá uma beleza alicerçada na feiúra aparente das imagens.

Project i [EN]
In Tanizaki’s “In Praise of Shadows” and the Wabi-Sabi aesthetic lies the metaphysical basis of a universe of beauty, that of imperfect, impermanent and incomplete things; an unconventional beauty of discreet and neglected greatness. And can we find greatness in the images of “i”? Will the Western aesthetics rhetoric fail to recognize its ideal of monumental and spectacular beauty in “i”? It should, because “i” don’t have such qualities. “i” are patiently constructed images for patient observers. They are about simplicity and the hidden things, the attempt and the ephemeral: you need to see. Go slow. Look close. And when we look, the dilution of the referent borders reveals itself, proving the images to be raw, corroded and contaminated. The sharp and precise forms of geometric organization were replaced by smooth carving and vaguely defined lines. They don’t have the perfection of fine workmanship. The form geometrical organization was eliminated, and it was accepted that they would accommodate themselves in an organic way. They have become naturally imperfect by their own will.
These imperfect and strange images, living in the dark, lurking in the gloom, will eventually fade into oblivion and non-existence. They are an illusion of permanence. They are impermanent.
And are they finished? What will they become and what will they say later? Like all things, the images are in an infinite state of becoming something or in one of dissolving. They are a process. They will never be complete. They survive in a state of incompleteness!
This is what we know and what we accept: the beauty of imperfect, impermanent and incomplete things. A beauty based on the apparent ugliness of the images.

Project i as seen on PROPELLER magazine website.

© 2017

Zemrude zine

Zemrude zinezemrude zine-collectors-edition

Title: Zemrude
Author: Arlindo Pinto
Editor: Self-Publishing
Dimensions: 13 x 18 cm
Pages: 24
Edition: 20 copies (regular) + 5 copies (collector’s edition)
Edition Year: 2015

It is the mood of the beholder which gives the city of Zemrude its form. If you go by whistling, your nose a-tilt behind the whistle, you will know it from below: window sills, flapping curtains, fountains. If you walk along hanging your head, your nails dug into the palms of your hands, your gaze will be held on the ground, in the gutters, the manhole covers, the fish scales, wastepaper. You cannot say that one aspect of the city is truer than the other, but you hear of the upper Zemrude chiefly from those who remember it, as they sink into the lower Zemrude, following everyday the same stretches of street and finding again each morning the ill-humor of the day before, encrusted at the foot of the walls. For everyone, sooner or later, the day comes when we bring our gaze down along the drainpipes and we can no longer detach it from the cobblestones. The reverse is not impossible, but it is more rare: and so we continue walking, through Zemrude’s streets with eyes now digging into the cellars, the foundations, the wells.

(CALVINO, 1972:68)

Tristesse

TRISTESSE

“La tristesse durerara toujours” proclamou Vincent na pobreza do leito onde se abandonou à morte suicidária (?)
Hunter, no deleite da alvura dos alucinogénios, afirmou perentório I’m “Counting stars by candle light” enquanto fitava de olhos arregalados “Noite Estrelada Sobre o Ródano”
McLean afinou o instrumento e porfia na evocação da genialidade construída na mestria impar e solitária dos transtornos afetivos do pintor
Ao pintor a pós-morte elevou à maioridade do fadário perpétuo da imortalidade
Noites estreladas sobre o Ródano, qualquer outro lugar no “Campo de Trigo com Corvos”
Os corvos da morte ou da liberdade, mas para sempre sair dali
da angústia fazer infindável felicidade, poética e contraditória existência
“Tristesse” é afinal ser e feliz lembrança do autor.

©2017

Today Is A Long Time

Today Is A Long Time

Today Is A Long Time cartaz Today Is A Long Time é um projeto editorial da editora “The Unknown Books” e é o meu mais recente livro fotográfico.
Sem vos querer maçar fica uma pequena sinopse abaixo.
Fica o convite para se juntarem à celebração.
Lá vos espero, dia 18, às 18.30.

*

«O Tempo não é apenas um caminho mais ou menos célere para o ocaso. É testemunha que há de ser chamada a depor sobre a teia de existências a cujo nascimento e constância assistiu indiferente. Alguém irá questioná-lo: se estava efetivamente lá, se tudo se passou assim, se aqueles entes se amavam efetivamente e se o seu dia a dia era de ternuras indizíveis. E se o sol brilhava mais quando a criança olhava o horizonte, tentando adivinhar o futuro, maravilhado com o que via.
O Tempo há de ser perguntado porque guardou para sempre na invisibilidade dos seus aposentos a memória de tudo o que existiu e há de responder com um leve sorriso:
– Por dever. Pela obrigação de ser Tempo. Para recordar ao outrora infante, que aqueles entes e aquele lugar continuam com ele até que ele próprio se torne memória e dele serão para lá desse epílogo. Para o recordar que lhes deve a sua generosidade e o seu afeto.
E o Tempo diz-se eterno, longo, severo e, no entanto, contraditoriamente curto.
“Today Is A Long Time” é “…um poético relato de imortalidade e humanidade… Um secreto murmúrio partilhado, sobre as múltiplas formas como a morte nos toca e esculpe.” *
Um divida saldada, um obrigado sentido. Um revisitar do lugar das memórias que ajudaram a construir o infante e a encontrar na ruína física aquilo que permanece, o que o Tempo, muito tempo, construiu.
As imagens são apenas lembrança, o que escondem é o que existe.»

*do texto introdutório de Susana Paiva

sonhando versos e sorrindo em itálico

sonhando versos e sorrindo em itálico

[PT]
O regresso regular às paisagens da infância é memória e contemplação. Percorrer distâncias apenas para alijar a carga das fórmulas da vivência citadina, vestida a preceito e organizada no caos da hipocrisia das narrativas infalivelmente corretas.
É uma transitória e triunfante liberdade de devaneio errático, imaginando e esquecendo as coisas que ficaram para trás e que deixei com desapego. Regresso para rever a cópia restaurada de um filme estreado há décadas, povoado de imagens que há muito se fixaram na memória.
Observando o tempo, sonho os versos em película e, nos breves instantes que a luz me concede, imortalizo o princípio daquela vida e permaneço indolente: “sonhando versos e sorrindo em itálico” como no poema de Álvaro de Campos.

 

[EN]
“dreaming verses and smiling in italics”
The systematic return to childhood landscapes is memory and contemplation. To go through distances just to shed the burden of the formulas of city living, properly dressed and organized in the chaos of its hypocritical and infallibly correct narratives.
It’s a triumphant and transitory liberty of erratic wandering, imagining and forgetting things left behind, that I detachedly abandoned.
I come back to rewatch a restored copy of a film that premiered decades ago, populated with images that are long rooted in the memory.
Observing time, I dream the verses on film and, within the brief moments that light concedes me, I immortalize the principle of that living, and I keep indolent: “dreaming verses and smiling in italics”, as in the poem by Álvaro de Campos.

©2017

 

Hope

HOPE

[PT]
“HOPE” é uma narrativa centrada na viagem de uma rapariga que, apesar de tudo o que vê tem ainda esperança na humanidade. Uma humanidade que se aniquila, mas também que se reinventa, num mundo que constrói, destrói e reconstrói a todo o momento. Sentimento contraditório de quem não se sente seguro na incerteza do mundo em que vive, considerando a história da própria humanidade aparentemente destinada a repetir-se indefinidamente.
Fotografado em Berlim, Sachsenhausen e Lisboa em filme de 35mm.

[EN] (loose & fast translation)
“HOPE” is a narrative centered on the journey of a girl who, despite everything she sees, still has hope in humanity. A humanity that annihilates itself, but also reinvents itself, in a world that it builds, destroys and rebuilds all the time. A contradictory feeling of those who do not feel secure in the uncertainty of the world in which they live, considering the history of humanity itself, destined to repeat itself indefinitely.
Photographed in Berlin, Sachsenhausen and Lisbon in 35mm film.

 

©2017

O ano termina aqui

O ano termina aqui

Caros amigos:
Quase a terminar o ano de 2016 quero dar nota do meu apreço por todos aqueles que de uma forma de ou de outra apoiam o meu trabalho enquanto fotógrafo: seja criticando de forma construtiva, seja ajudando na realização de eventos, divulgando e adquirindo algumas das coisas que vou fazendo enquanto fotógrafo. Estas aquisições são uma importante contribuição para continuar a desenvolver trabalho, porque ajudam a amortizar os investimentos que vou fazendo. Não há lucro. Há vontade, paixão e muito trabalho.
O ano termina aquiEm 2016 editei duas novas zines “EVERYTHING IS NOT” e O ano termina aqui alegoria do inferno zineAlegoria do Inferno”. Considerem oferecer alguma pelo Natal ou até na Páscoa… Algumas das minhas zines estão quase esgotadas e a a 7ª Feira do Livro de Fotografia de Lisboa – Lisbon’s Photobook Fair deste ano ajudou nesse capitulo.
A zine da série Space 3 está quase esgotada. Fotografias desta série receberam uma Menção Honrosa no Concurso de Fotografia do Barreiro 2017. Não sendo um primeiro prémio, é mais um indicio que nos diz que, possivelmente, estamos no caminho da luz! A exposição com os 10 melhores trabalhos a concurso está por lá! A zine da série AUSÊNCIAS está quase esgotada também
A propósito, estive no Barreiro no dia 27 de novembro numa conversa muito interessante sobre o ensino da fotografia em Portugal, como moderador, por ausência da Susana Paiva (uma mentora e referência para mim). Estiveram representados na conversa o IADE, a APAF, a AR.CO, o IPT, o MEF e o CENJOR.
Tenho grandes expectativas para 2017. Mas isso fica, por ora, no segredo do deuses.
Sejam felizes.
O ano termina aqui.

Everything Is Not

Everything Is Not

O modelo de (re)construção das cidades do pós-guerra, foi determinante no desaparecimento da rua como espaço social e reclusão dos indivíduos. E “reclusos no isolamento habitacional e social de um bairro dormitório, podemos sentir-nos em contacto com o mundo através da Internet e da televisão, as verdadeiras paisagens do nosso imaginário quotidiano”1.
A condição existencial pós-moderna carateriza-se pelo primado do homo consumens. O consumo, por seu lado, é identificado com poder e felicidade e sustenta o domínio da mercadoria como elemento de controlo social, num mundo sustentado nas aparências e na voracidade permanente de factos, notícias e produtos.
O mundo contemporâneo, individualista e globalizado, impõe a imagem e a representação no lugar do realismo concreto e natural, a aparência no lugar do ser, coloca a ilusão no lugar da realidade e substitui a atividade de pensar e reagir com dinamismo pela imobilidade. “Pela mediação das imagens e mensagens dos meios de comunicação de massa os indivíduos em sociedade abdicam da dura realidade dos acontecimentos da vida. O consumo e a imagem ocupam o lugar, que antes era do diálogo pessoal, através da TV e os outros meios de comunicação de massa, publicidades de automóveis, marcas, etc., e produz o isolamento e a separação social entre os seres humanos”2.
EVERYTHING IS NOT é uma reflexão crítica sobre um mundo que busca a glória nas imagens que fabrica. Um mundo mediado, deturpado, irreal, impossível de ver. Na verdade, a sociedade transformou-se em algo onde a contínua reprodução da cultura é feita pela proliferação de imagens e mensagens dos mais variados tipos. A consequência disso, é uma vida contemporânea invadida por imagens, fornecendo um novo tipo de experiência humana onde é difícil separar a ficção da realidade. São os media, sobretudo a televisão, que definem a importância das coisas e as agendas políticas, sociais e culturais. A sociedade contemporânea é a negação da própria humanidade, que busca felicidade numa aparente liberdade de escolha. Não há liberdade num imaginário já preenchido por uma satisfação antecipada a partir de um real fabricado.
Esta realidade mediada, aliada à passividade dos Homens, não pode senão conduzir a vivências de reclusão, contemplativas, fundadas em imagens, a vidas que não são mais do que uma aparência da aparência. A apatia que dissimuladamente se instala, abre portas ao conforto da superficialidade, tomando-se como verdadeiro o falso das imagens, elas próprias interpretações espetaculares do mundo.

1. Lippolis, Leonardo (2016). “Viagem aos Confins da Cidade“. 1ª ed. Lisboa: Antígona.
2. Bahia, José Aloise. (2005). “A sociedade do espetáculo.“Observatorio da Imprensa, 5 de janeiro. Página consultada a 7 de abril de 2016.

© 2016