Promover o Photobook

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Amigas e amigos:

Estamos perto de chegar ao mais estranho natal das nossas vidas, globalmente falando, porque natais estranhos já todos devemos ter tido.

A pandemia mitigará, talvez, o acesso às catedrais do consumo, onde todos vamos para nos sentirmos sós e comprar as coisas mais ou menos normalizadas pelo mercado das necessidades. Algumas criadas, para nosso gáudio!

Nós, os que não têm uma loja de renda milionária no shopping, entregamos em mão, discutimos a obra e falamos de coisa triviais enquanto bebemos qualquer coisa e comemos uma chamuça. Falo dos que fazem livros, pequenas edições em que investimos tempo, dinheiro, suor e lágrimas (isto já é muito drama, mas pelo menos algum stresse cabelos brancos). Sabemos que é assim e que o mérito não vem pela quantidade vendida, mas pela felicidade de saber de que 2, 20, 50, ou menos, quiçá, ali encontraram prazer e nas imagens do autor construíram a “história” que este quis contar, ou a sua própria, o que é muito mais belo. Se com a nossa argamassa outros constroem templos melhores do que os nossos, a satisfação é multiplicada pelo número de construções que cada um erige.

Não saberão, mas cada um dos autores que se autoedita, tem em vários locais da casa ou do ateliê, obras suas à espera de alguém que as possa acarinhar (é mesmo esta a expressão – não é pieguice). E estão lá pelas mais variadas e estranhas razões: desde as falhas do autor na distribuição, até à falta de oportunidade de qualquer coisa, passando pelo desdém que alguns nutrem pelos que não são o moço de orelhas de rato Mickey (sem ofensa que eu respeito os dois, incluindo o das orelhas).

Vai daí, tirei-me de cuidados [neste momento o Mário Pires escreve no Facebook “O Jorg Colbert disse que o mercado mundial para os Photobooks era muito limitado, isso há uns anos. Acho que tem razão, tirando exceções honrosas, os livros ganham pó nas livrarias.”] e pensei, porque não sacudir o pó aos livros e oferecê-los a preços (ainda) mais baixos para que alguém possa ter um natal com imagens e imaginação? É imaginação. Imaginem só!

Promover o photobook (em estrangeiro parece outra coisa) e a imagem fotográfica e colocá-los nas vossas mãos, é o intuito de um microsite que criei destinado às ofertas de baixo preço que podem encontrar AQUI.

Por defeito o site cobra portes. Se quiserem entregas em mão, avisem antes de comprar.

No entanto se nada do que ali consta vos interessar e no mesmo intervalo de preços, têm no OLX, desde a “Grande Enciclopédia Médica – Como Nova!!!” até ao sempre útil “Eletricidade Básica” ou mesmo o “Livro Fundamentos de Enfermagem de Saúde Mental”. Todos temos interesses diversos e ainda bem que assim é. Caso contrário, tudo isto seria estupidamente monótono.

Boas compras.

Namastê.

Project i

Project i

Project i [PT]

Entre a “Sombra” de Tanizaki e a estética Wabi-Sabi existe nada: o nada para que devoluem ou evoluem todas as coisas, a base metafisica de um universo de beleza de coisas imperfeitas, impermanentes e incompletas. Uma beleza não convencional. A beleza das coisas modestas e humildes encontradas por entre as matizes da sombra e da penumbra.
No discreto e negligenciado encontramos a grandeza. E poderemos nós encontrar grandeza nas imagens de “i”? A retórica da estética ocidental pode, como tudo se pode, não lhe reconhecer a ideia de monumental e espetacular beleza. Pois não pode! Nem sequer deve! Porque não ostentam tais qualidades, nem pretendem ostentar. “i” são imagens de paciência, construídas pacientemente, para observadores pacientes. São sobre o menor e o oculto, a tentativa e o efémero: é preciso olhar. Ir devagar. Olhar de perto.
E quando olhamos, revela-se a diluição das fronteiras do referente, oscilando as imagens entre o abstrato e o figurativo, mostrando-se cruas, corroídas e contaminadas. A organização geométrica das formas, nítidas e precisas, foi deliberada e ostensivamente substituída por talhos suaves, ângulos e linhas vagos e pouco definidos. Não lhe subjaz a perfeição ou a preocupação do fino acabamento. Anulou-se a geométrica organização da forma e aceitou-se que se acomodassem elas próprias de forma orgânica. Ter-se-ão tornado naturalmente imperfeitas, por sua própria vontade. E que importa isso às imagens? Nada, absolutamente nada! Nada existe sem imperfeição.
Onde é existem estas imagens, imperfeitas, estranhas, vivendo no escuro, espreitando na penumbra. No papel ou no ecrã, na memória ou na pele, acabarão por se desvanecer e cair no esquecimento e não inexistência. Existem apenas numa ilusão da permanência. Não permanecerão. São impermanentes.
Estão ou não terminadas estas imagens e que nos querem dizer? Em que se tornarão e o que dirão depois? Como todas as coisas, incluindo o universo que conhecemos e o que não conhecemos, as imagens estão num infinito estado de se tornar algo ou de se dissolver. São um processo. Nunca estarão completas. Sobrevivem num estado de incompletude!
É isto que sabemos e isto que aceitamos: a beleza das coisas imperfeitas, impermanentes, e incompletas. Quiçá uma beleza alicerçada na feiúra aparente das imagens.

Project i [EN]
In Tanizaki’s “In Praise of Shadows” and the Wabi-Sabi aesthetic lies the metaphysical basis of a universe of beauty, that of imperfect, impermanent and incomplete things; an unconventional beauty of discreet and neglected greatness. And can we find greatness in the images of “i”? Will the Western aesthetics rhetoric fail to recognize its ideal of monumental and spectacular beauty in “i”? It should, because “i” don’t have such qualities. “i” are patiently constructed images for patient observers. They are about simplicity and the hidden things, the attempt and the ephemeral: you need to see. Go slow. Look close. And when we look, the dilution of the referent borders reveals itself, proving the images to be raw, corroded and contaminated. The sharp and precise forms of geometric organization were replaced by smooth carving and vaguely defined lines. They don’t have the perfection of fine workmanship. The form geometrical organization was eliminated, and it was accepted that they would accommodate themselves in an organic way. They have become naturally imperfect by their own will.
These imperfect and strange images, living in the dark, lurking in the gloom, will eventually fade into oblivion and non-existence. They are an illusion of permanence. They are impermanent.
And are they finished? What will they become and what will they say later? Like all things, the images are in an infinite state of becoming something or in one of dissolving. They are a process. They will never be complete. They survive in a state of incompleteness!
This is what we know and what we accept: the beauty of imperfect, impermanent and incomplete things. A beauty based on the apparent ugliness of the images.

Project i as seen on PROPELLER magazine website.

© 2017

Lançamento de Take My Body

Lançamento de  Take My Body

Capa de Take My Body
Capa de Take My Body

Em 2013 produzi uma série fotográfica dedicada, designadamente, opinião minha, à desconstrução do nu masculino e à forma como este é, em regra, apresentado na fotografia, seja ela clássica ou contemporânea (e não vamos discutir o que é ou não é contemporâneo). Mas a linha do trabalho desenvolvido e terminado no final daquele ano, tinha outra preocupação: contribuir para a aceitação do corpo tal como ele é, discutindo e colocando em crise a ideia do modelo corporal da antiguidade greco-romana e da cultura judaico-cristã. No primeiro caso o modelo dos deuses, no segundo o modelo de Deus, encarnado em Cristo e secularizado, dir-se-ia, pela primeira vez (para evitarmos delongas) no autorretrato do pintor alemão renascentista Albrecht Dürer, datado de 1500.
A série resultou de um workshop de um ano orientado pela fotógrafa Susana Paiva.
Cito aqui retirado do “Artist Statement” da série, que designei de Take My Body (Tomai o Meu Corpo) assenta na desconstrução do modelo clássico do nu masculino, dos corpos graciosos, calvos ou imberbes. É um exercício de auto-exploração, escuro, animalesco, primário.
O homem não definido como um ser belo, refinado ou poderoso, mas resumido aos seus desejos instintivos e à necessidade humana básica de sobrevivência.
Partilha da intimidade física e exposição da obscuridade que permanece no interior do corpo.
Pretende inspirar pensamentos sobre nós mesmos e sobre a vulnerabilidade do artista relativamente a cada espetador e questionar a relação que temos com o corpo, como nos relacionamos com a nossa intimidade.
Retirar do corpo a carga emocional e estereotipada do “glamour” a que se encontra sujeito e contribuir para a aceitação do corpo masculino enquanto tal.
TOMAI O MEU CORPO pretende ir ao encontro dos humanos que se questionam sobre a beleza exterior do corpo e podem encontrar nestas imagens a aceitação do seu e das emoções que ele desperta ou que jazem no seu interior.
O trabalho colheu influências de nus de Bill Brandt e André Kertész.
Após um curso de verão no AR.CO, com o professor Sérgio Mah, sobre a concecão do livro de fotografia, surgiu o fotozine que no dia 1 de Novembro apresentarei em Coimbra na Mercearia de Arte Alves & Silvestre e que traz ao formato impresso algumas das imagens que constituem a série. A edição de colecionador é acompanhada de uma fotografia extra fotozine, impressa em papel Fine Art Hahnemuhle Photo Rag de 308g com as medidas 297x210mm, numa edição da Hugglybooks.

lançamento de take my body

 

O Lançamento de Take My Body está inserido na 2ª Feira do Livro de Autor, organizado pela Mercearia de Arte Alves & Silvestre, pelo Photobook Club Coimbra e pelo THE PORTFOLIO PROJECT, em Coimbra.
Se passarem por Coimbra nesse dia, às 20h estaremos todos na mercearia.
Um abraço.

título | take my body
autor | arlindo pinto
dimensão | 23×31 cm
número de páginas | 26
editor | Hugglybooks black scrapbook editions
pvp | 25 euros edição de colecionador | 10 euros edição regular
edição limitada a 50 exemplares | numerados e assinados pelo autor
ISBN | 978-989-98696-3-9

Clique AQUI para adquirir o seu exemplar

O projeto Take My Body

O projeto TAKE MY BODY

o projeto take my bodyEm 2013 estive envolvido num workshop de fotografia subordinado ao tema : “O que farei com esta imagem?”. O projeto inicial passava por desenvolver uma ideia que não teve condições para tanto.
Depois, aquele que foi apresentado e disso aqui demos conta, como o projeto “TheNakedHairyPhotographer” transformou-se n’ o projeto Take My Body, uma visão descomplexada do corpo humano e da relação que temos com o mesmo.
As fotografias que compõem o projeto estão já online aqui: https://arlindopinto.com/fine-art/take-my-body/

Desde “arrojado” e “belo” a “dialeto incompreensível”, o projeto  já recebeu alguns epítetos “interessantes”. Uns fundamentados outros nem tanto (e por isso sem validade).
As imagens foram divulgadas em primeira mão pela rede StudioVox de Los Angeles, EUA e posteriormente através do The Portfolio Project, no mês da fotografia em Sofia, Bulgária.
São agora divulgadas aqui.
Tenham um bom 2014.
Um abraço!

Take My Body

TAKE MY BODY

Take My Body assenta na desconstrução do modelo clássico do nu masculino, dos corpos graciosos, calvos ou imberbes. É um exercício de auto-exploração, escuro, animalesco, primário. O homem não definido como um ser belo, refinado ou poderoso, mas resumido aos seus desejos instintivos e à necessidade humana básica de sobrevivência.
Partilha da intimidade física e exposição da obscuridade que permanece no interior do corpo.
Pretende inspirar pensamentos sobre nós mesmos e sobre a vulnerabilidade do artista relativamente a cada espectador e questionar a relação que temos com o corpo, como nos relacionamos com a nossa intimidade.
Almeja retirar do corpo a carga emocional e estereotipada do “glamour” a que se encontra sujeito e contribuir para a aceitação do corpo masculino enquanto tal.
Take My Body pretende ir ao encontro dos humanos que se questionam sobre a beleza exterior do corpo e podem encontrar nestas imagens a aceitação do seu e das emoções que ele desperta ou que jazem no seu interior.

© 2013

Miopia

MIOPIA

Quando começou e onde acaba o conceito e a realidade da união de algo que nos parece já distante? A família é erro de refração. É um retrato social. Não é um retrato pessoal. É uma incerteza. A família é algo distante, desfocado, é miopia.
O que nos liga é uma imposição social, ausente de afeto, laços que se consomem com o falecer do tempo.
Nesta série de fotografias a objetiva é um prolongamento do olhar, um meio para expressar a inconstância típica do ser e do ser em comunidade. Um jogo em que as regras da composição gráfica são manipuladas para forçarem a introspeção e a avaliação das relações.
Assume-se uma viagem pela miopia mecânica das lentes fotográficas. Não há lentes de contacto que possam iluminar o que já só ao longe se vê. E só “consertando” os defeitos da refração da luz na objetiva provocados pelo fotógrafo atingiremos o alcance deste trabalho. A final.
A paisagem circundante fica mais leve quando o foco é impreciso. Olhe-se bem! Primeiro ao perto, para depois, conseguirmos a amplitude de perceção necessária para compreender a realidade.
Esta série aponta para realidade como ela se nos apresenta: incerta. Um desafio por entre sombras e silhuetas. Um afastamento da verdade na procura impulsiva do ser.

© 2005

No Rewind & No Replay

No Rewind & No Replay

“Viver é morrer um pouco todos os dias.

Somos morte. Isto, que consideramos vida, é o sono da vida real, a morte do que verdadeiramente somos. Os mortos nascem, não morrem. Estão trocados, para nós, os mundos. Quando julgamos que vivemos, estamos mortos; vamos viver quando estamos moribundos.

Aquela relação que há entre o sono e a vida é a mesma que há entre o que chamamos vida e o que chamamos morte. Estamos dormindo, e esta vida é um sonho, não num sentido metafórico ou poético, num sentido verdadeiro.

Tudo aquilo que em nossas actividades consideramos superior, tudo isso participa da morte, tudo isso é morte. Que é o ideal senão a confissão de que a vida não serve? Que é a arte senão a negação da vida? Uma estátua é um corpo morto, talhado para fixar a morte, em matéria de incorrupção. O mesmo prazer, que tanto parece uma imersão na vida, é antes uma imersão em nós mesmos, uma destruição das relações entre nós e a vida, uma sombra agitada da morte.

O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela.

Povoamos sonhos, somos sombras errando através de florestas impossíveis, em que as árvores são casas, costumes, ideias, ideais e filosofias.

Nunca encontrar Deus, nunca saber, sequer, se Deus existe! Passar de mundo para mundo, de encarnação para encarnação, sempre na ilusão que acarinha, sempre no erro que afaga.

A verdade nunca, a paragem [?] nunca! A união com Deus nunca! Nunca inteiramente em paz mas sempre um pouco dela, sempre o desejo dela!”

Texto de Bernardo Soares

Fotografias © 2012