Everything Is Not
O modelo de (re)construção das cidades do pós-guerra, foi determinante no desaparecimento da rua como espaço social e reclusão dos indivíduos. E “reclusos no isolamento habitacional e social de um bairro dormitório, podemos sentir-nos em contacto com o mundo através da Internet e da televisão, as verdadeiras paisagens do nosso imaginário quotidiano”1.
A condição existencial pós-moderna carateriza-se pelo primado do homo consumens. O consumo, por seu lado, é identificado com poder e felicidade e sustenta o domínio da mercadoria como elemento de controlo social, num mundo sustentado nas aparências e na voracidade permanente de factos, notícias e produtos.
O mundo contemporâneo, individualista e globalizado, impõe a imagem e a representação no lugar do realismo concreto e natural, a aparência no lugar do ser, coloca a ilusão no lugar da realidade e substitui a atividade de pensar e reagir com dinamismo pela imobilidade. “Pela mediação das imagens e mensagens dos meios de comunicação de massa os indivíduos em sociedade abdicam da dura realidade dos acontecimentos da vida. O consumo e a imagem ocupam o lugar, que antes era do diálogo pessoal, através da TV e os outros meios de comunicação de massa, publicidades de automóveis, marcas, etc., e produz o isolamento e a separação social entre os seres humanos”2.
EVERYTHING IS NOT é uma reflexão crítica sobre um mundo que busca a glória nas imagens que fabrica. Um mundo mediado, deturpado, irreal, impossível de ver. Na verdade, a sociedade transformou-se em algo onde a contínua reprodução da cultura é feita pela proliferação de imagens e mensagens dos mais variados tipos. A consequência disso, é uma vida contemporânea invadida por imagens, fornecendo um novo tipo de experiência humana onde é difícil separar a ficção da realidade. São os media, sobretudo a televisão, que definem a importância das coisas e as agendas políticas, sociais e culturais. A sociedade contemporânea é a negação da própria humanidade, que busca felicidade numa aparente liberdade de escolha. Não há liberdade num imaginário já preenchido por uma satisfação antecipada a partir de um real fabricado.
Esta realidade mediada, aliada à passividade dos Homens, não pode senão conduzir a vivências de reclusão, contemplativas, fundadas em imagens, a vidas que não são mais do que uma aparência da aparência. A apatia que dissimuladamente se instala, abre portas ao conforto da superficialidade, tomando-se como verdadeiro o falso das imagens, elas próprias interpretações espetaculares do mundo.
1. Lippolis, Leonardo (2016). “Viagem aos Confins da Cidade“. 1ª ed. Lisboa: Antígona.
2. Bahia, José Aloise. (2005). “A sociedade do espetáculo.“Observatorio da Imprensa, 5 de janeiro. Página consultada a 7 de abril de 2016.
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