Tenham vergonha!

Originally posted 2018-03-05 06:09:05.

ShameOs funcionários públicos são, de há muitos anos a esta parte, uma classe mal amada (odiada até por alguns, disso estou certo), a causa de todos os males, a incompetência personificada, os excedentes, etc. e tal. Mal amada pelos sucessivos (des)governos que têm assentado a sua prosápia na necessidade de reduzir despesas, aqui sinónimo de pessoal, e ala que se faz tarde, há que castigá-los por, ao que parece, terem levado o país para mais uma crise económica (se é que de alguma vez de lá saiu): os vencimentos e a progressão (não confundir com promoção, como muito idiota, nomeadamente, da comunicação social confunde – fundamentalmente por falar do que não sabe) são congelados. De cada vez que dois saem, só um é admitido, como se a gestão de recursos fosse uma mera questão de matemática, cega e acéfala e, já agora, miserabilista. Mal amada pelos ditos “contribuintes”, (há bastantes que contribuem com muito pouco), que vêm neles mais um entrave ao desenvolvimento das suas actividades, uma máquina que se alimenta a si própria sem os olhar nos olhos, solicitando-lhe formulários e documentos, reuniões e requerimentos.
Mais, os funcionários públicos usam baixas fraudulentas para se furtarem ao cumprimento dos seus deveres profissionais. Logo aqui se encontra mais um motivo para enegrecer a classe e desferir rudes golpes, ou na sua auto-estima ou no seu vencimento, o que importa é ter o bode que expie os pecados de todo o redil.
Da forma que eu vejo a coisa, esses funcionários não são nem públicos nem privados: apenas maus profissionais a quem a deontologia e os seus deveres profissionais são estranhos. Pior do que isso, como se o facto só por si não fosse suficientemente mau, é, contudo, saber que muitos superiores hierárquicos desses baixistas fraudulentos (sem ofensa para os tocadores de baixo) toleram comportamentos dessa natureza não adoptando as medidas que para o caso a lei prevê, esforçando-se por expulsar da função pública esse ignóbeis cujo único contributo para o serviço público é denegrirem a sua imagem. Os (des)governos juram que medidas serão tomadas, cabeças irão rolar, o mal será erradicado. Fiscalizem-se os funcionários, façam-se verificações domiciliárias de doença, apanhem-se os sacanas. Ok! E os outros?
Colocando de parte as situações em que os próprios funcionários falsificam os atestados médicos, parece todo o mundo esquecer que para ser possuidor de um documento que atesta a situação de um ser vivo, é necessário que um diplomado inscrito na respectiva ordem o assine: um médico. Onde está a deontologia e sentido do dever, do profissional que passa ao não doente um documento atestando que o mesmo se encontra que nem pode, incapaz de exercer a sua profissão, mas com o cuidado de referir que pode ausentar-se do seu domicilio, não vá ainda agravar o seu estado? É, hoje em dia, a generalidade dos doentes, além da não doença, ainda padece de claustrofobia. Logo, há que arejar a gaita (de foles ou de beiços, não interessa).
Que certos profissionais da intocável classe médica, não só atestam a doença, como cobram para o fazer, já eu sabia. No entanto, hoje mesmo “um passarinho do mundo editorial” fez-me saber que os tais médicos cobram pelo atestado (uma “consulta”) um preço do qual, enquanto impolutos cumpridores dos sagrados mandamentos da lei fiscal, emitem o competente recibo. A coisa depois agrava-se. Munido do atestado e do recibo o funcionário não doente, entrega os dois nos serviços competentes para que os mesmos produzam os seus efeitos, a saber: o primeiro para justificar as faltas pela alegada doença e o segundo para ser reembolsado de 80% do valor da não consulta. É certo que no primeiro mês ainda vê descontado no seu vencimento 1/6 do mesmo. Mas há-de pedir o seu reembolso e, em 99,9% dos casos, há-de ser-lhe concedido… Digam-me se não está bem pensado: o país tem um funcionário de perfeita saúde, em casa (salvo os dias em que, documentado, se ausenta para laurear), a receber 100% do seu vencimento, a quem vai reembolsar 80% dos custos com uma consulta médica que não existiu!
Qual é o papel dos médicos? Dos outros já nós sabemos: são do pior! E estes?
Tenham vergonha nessa cara e nunca mais abram a boca para vilipendiar os funcionários públicos.

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